terça-feira, 17 de dezembro de 2019


‘Velho Lázaro’, um santo que une Cuba pela fé
Devotos cubanos participam do culto de São Lázaro na Igreja El Rincón, em Havana - AFP
17/12/19 - 12h21 - Atualizado em 17/12/19 - 14h04

Alguns chegam andando de joelhos. Outros rastejam até o templo, como penitência por um favor concedido. No dia de São Lázaro, os cubanos católicos, iorubás, laicos e agnósticos, emigrantes e residentes se unem sob um único manto de fé no santuário de El Rincón, em Havana.
El Rincón é uma cidade a cerca de 20 km da capital. Na véspera de 17 de dezembro, suas ruas estão cheias de fiéis que prestam homenagem ao milagroso Lázaro.
Muitos vestem roxo – a cor da divindade – e levam também flores roxas, velas e roupas feitas de juta.
Na avenida principal, Calzada de San Antonio, há vendedores de pão com cerdo, frango frito, objetos religiosos, flores e imagens de São Lázaro.
Os fiéis caminham pelo centro. De algumas casas pode-se ouvir a melodia da salsa e do reggaeton, numa espécie de sincretismo caribenho.
Um homem negro rasteja de costas há várias horas, a caminho do templo. “Ele faz isso por sua filha, que foi salva de uma doença”, conta uma mulher que o acompanha e que limpa a estrada com alguns galhos.
Sua jornada é monitorada por pessoas da Cruz Vermelha, que supervisionam para que ele não se machuque.
Ao atingir seu objetivo, ele é recebido por um padre católico e levado em uma maca para um posto de saúde, onde é tratado dos arranhões e queimaduras do asfalto.
Lázaro agrupa três santos em um, como uma ponte entre culturas e religiões. O primeiro é São Lázaro de Betânia, levado a Cuba pela Igreja Católica e ressuscitado por Jesus segundo o relato bíblico, tornando-se supostamente bispo.
O segundo, uma contribuição dos escravos africanos, Babalú Ayé, um rei iorubá punido com doenças de pele por sua vida libertina, que se tornou um orixá (deus) ao cumprir penitência e se dedicar a fazer o bem. São atribuídos a ele milagres de cura.
E o terceiro refere-se à história bíblica de outro Lázaro, um mendigo leproso, de muletas, acompanhado de cães que lambem as feridas, faminto e que foi para o céu quando morreu. É essa a imagem que os devotos materializaram e à qual cultuam.
“Dois anos atrás, caí de quase dois metros, quebrei a tíbia e a fíbula e machuquei meu pulmão. Passei um mês no hospital. Pedi bastante a ele. São Lázaro me tirou do hospital e me fez andar”, conta um trabalhador de 46 anos que coincidentemente se chama Lázaro e carrega a imagem do santo nos braços.

E o terceiro refere-se à história bíblica de outro Lázaro, um mendigo leproso, de muletas, acompanhado de cães que lambem as feridas, faminto e que foi para o céu quando morreu. É essa a imagem que os devotos materializaram e à qual cultuam.


O “Velho Lázaro” nunca foi admitido nos templos católicos e foi marginalizado durante três décadas de ateísmo socialista (1961-90).
Hoje, sua capela está no jardim do Santuário Nacional de São Lázaro, um leprosário do início do século XX que se tornou um templo católico e local de peregrinação