sexta-feira, 17 de junho de 2016





Sobre Yamins

Quando se pronuncia o nome de IYAMI OXORONGÁ quem estiver sentado deve se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência pois esse é um temível Orixá, a quem se deve respeito completo. Pássaro africano, OXORONGÁ emite um som onomatopaico de onde provém seu nome. É o símbolo do Orixá IYAMI, ai o vemos em suas mãos. Aos seus pés, a coruja dos augúrios e presságios. IYAMI OXORONGÁ é a dona da barriga e não há quem resista aos seus ebós fatais, sobretudo quando ela executa o OJIJI, o feitiço mais terrível. Com IYAMI todo cuidado é pouco, ela exige o máximo respeito. IYAMI OXORONGÁ, bruxa é pássaro.

As ruas, os caminhos, as encruzilhadas pertencem a ESU. Nesses lugares se invoca a sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se lhe fazem pedidos para o bem e para o mal, sobretudo nas horas mais perigosas que são ao meio dia e à meia-noite, principalmente essa hora, porque a noite é governada pelo perigosíssimo odu Oyeku Meji. À meia-noite ninguém deve estar na rua, principalmente em encruzilhada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum lugar e esperar passar os primeiros minutos. Também o vento (afefe) de que Oya ou Iansan é a dona, pode ser bom ou mau, através dele se enviam as coisas boas e ruins, sobretudo o vento ruim, que provoca a doença que o povo chama de "ar do vento". Ofurufu, o firmamento, o ar também desempenha o seu papel importante, sobretudo á noite, quando todo seu espaço pertence a ELEIYE, que são as AJÉ transformadas em pássaros do mal, como Agbibgó, Elùlú, Atioro, Osoronga, dentre outros, nos quais se transforma A AJÉ-MÃE, mais conhecida por IYAMI OSORONGA. Trazidas ao mundo pelo odu Osa Meji, as AJÉ, juntamente com o ODU OYEKU MEJI, formam o grande perigo da noite. Eleiye voa espalmada de um lado para o outro da cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enche de pavor os que a ouvem ou vêem. Todas as precauções são tomadas. Se não se sabe como aplacar sua fúria ou conduzí-la dentro do que se quer, a única coisa a se fazer é afugentá-la ou esconjurá-la, ao ouvir o seu eco, dizendo Oya obe l'ori (que a faca de Iansã corte seu pescoço), ou então Fo, fo, fo (voe, voe, voe). Em caso contrário, tem-se que agradá-la, porque sua fúria é fatal. Se é num momento em que se está voando, totalmente espalmada, ou após o seu eco aterrorizador, dizemos respeitosamente A fo fagun wo'lu ( [saúdo] a que voa espalmada dentro da cidade), ou se após gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas, dizemos, para agradá-la Atioro bale sege SEGE ([saúdo] ATIORO que pousa elegantemente) e assim uma série de procedimentos diante de um dos donos do firmamento à noite. Mesmo agradando-a não se pode descuidar, porque ela é fatal, mesmo em se lhe felicitando temos que nos precaver. Se nos referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se pôr, fazemos um X no chão, com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que representa perigo. Se durante à noite corremos a mão espalmada, à altura da cabeça, de um lado para o outro, afim de evitar que ela pouse, o que significará a morte. Enfim, há uma infinidade de maneiras de proceder em tais circunstâncias.

IYAMI OSHORONGÁ é o termo que designa as terríveis AJÉS, feiticeiras africanas, uma vez que ninguém as conhece por seus nomes. As IYAMI representam o aspecto sombrio das coisas: a inveja, o ciúme, o poder pelo poder, a ambição, a fome, o caos o descontrole. No entanto, elas são capazes de realizar grandes feitos quando devidamente agradadas. Pode-se usar os ciúmes e a ambição das IYAMI em favor próprio, embora não seja recomendável lidar com elas.

O poder de IYAMI é atribuído às mulheres velhas, mas pensa-se que, em certos casos, ele pode pertencer igualmente a moças muito jovens, que o recebem como herança de sua mãe ou uma de suas avós.

Uma mulher de qualquer idade poderia também adquiri-lo, voluntariamente ou sem que o saiba, depois de um trabalho feito por alguma IYAMI empenhada em fazer proselitismo.

Existem também feiticeiros entre os homens, os OXÔ, porém seriam infinitamente menos virulentos e cruéis que as AJÉ (feiticeiras).

Ao que se diz, ambos são capazes de matar, mas os primeiros jamais atacam membros de sua família, enquanto as segundas não hesitam em matar seus próprios filhos. As IYAMI são tenazes, vingativas e atacam em segredo. Dizer seu nome em voz alta é perigoso, pois elas ouvem e se aproximam pra ver quem fala delas, trazendo sua influência.

IYAMI é freqüentemente denominada ELEYÉ, dona do pássaro. O pássaro é o poder da feiticeira; é recebendo-o que ela se torna AJÉ. É ao mesmo tempo o espírito e o pássaro que vão fazer os trabalhos maléficos.

Durante as expedições do pássaro, o corpo da feiticeira permanece em casa, inerte na cama até o momento do retorno da ave. Para combater uma AJÉ, bastaria, ao que se diz, esfregar pimenta vermelha no corpo deitado e indefeso. Quando o espírito voltasse não poderia mais ocupar o corpo maculado por seu interdito.

IYAMI possui uma cabaça e um pássaro. A coruja é um de seus pássaros. É este pássaro quem leva os feitiços até seus destinos. Ele é pássaro bonito e elegante, pousa suavemente nos tetos das casas, e é silencioso.

"Se ela diz que é pra matar, eles matam, se ela diz pra levar os intestinos de alguém, levarão".

Ela envia pesadelos, fraqueza nos corpos, doenças, dor de barriga, levam embora os olhos e os pulmões das pessoas, dá dores de cabeça e febre, não deixa que as mulheres engravidem e não deixa as grávidas darem à luz.

As IYAMI costumam se reunir e beber juntas o sangue de suas vítimas. Toda IYAMI deve levar uma vítima ou o sangue de uma pessoa à reunião das feiticeiras. Mas elas têm seus protegidos, e uma IYAMI não pode atacar os protegidos de outra IYAMI.

IYAMI OSHORONGÁ está sempre encolerizada e sempre pronta a desencadear sua ira contra os seres humanos. Está sempre irritada, seja ou não maltratada, esteja em companhia numerosa ou solitária, quer se fale bem ou mal dela, ou até mesmo que não se fale, deixando-a assim num esquecimento desprovido de glória. Tudo é pretexto para que IYAMI se sinta ofendida.

IYAMI é muito astuciosa; para justificar sua cólera, ela institui proibições. Não as dá a conhecer voluntariamente, pois assim poderá alegar que os homens as transgridem e poderá punir com rigor, mesmo que as proibições não sejam violadas. Iyami fica ofendida se alguém leva uma vida muito virtuosa, se alguém é muito feliz nos negócios e junta uma fortuna honesta, se uma pessoa é por demais bela ou agradável, se goza de muito boa saúde, se tem muitos filhos, e se essa pessoa não pensa em acalmar os sentimentos de ciúme dela com oferendas em segredo. É preciso muito cuidado com elas. E só Orunmilá consegue acalmá-la.

DOTÉ SILVIO DE OTOLU


terça-feira, 14 de junho de 2016




"OS SABICHÕES DO CANDOMBLÉ"


 Com este título iremos discorrer sobre uma realidade que há tempo vem ocorrendo nos terreiros de candomblé, casas de quimbanda e outras congêneres, porém, todas do culto afro brasileiro, que se propõem a prestar a ajuda espiritual, através do jogo de Ifá (búzios).

 Bem, com o advento da internet, principalmente o Google, que é uma ferramenta de pesquisa muito importante para os internautas em todas as áreas, a diáspora africana pela sua importância para a nossa sociedade brasileira, mestiça, cabocla, ameríndia e branca, talvez seja uma das temáticas mais buscadas na internet, pois, que o sangue  do escravo africano, construtor desta nação, pulsa em todas as veias com maior intensidade.


É sabido, que em um país como o Brasil, o antagonismo entre classes sociais sempre existiu e sempre existirá,  e será sempre o combustível, de uma luta perene de prevalência  de direitos de uns sobre os outros, haverá sempre uma luta, nem sempre velada, estaremos sempre lutando contra mandingas, olho grande, magias de toda natureza, para derrubar alguém de um posto ocupado, que muitas das vezes, fere interesses de muitos, e que na maioria das vezes, as armas que se pode lançar mão, por muitos, em primeiro lugar estão às intrigas, que muitas das vezes, funcionam até com mais rapidez do que os trabalhos afro-espirituais, os chamados feitiços e contra feitiços, haverá sempre alguém, querendo a mulher de alguém, ou o homem e vice versa.

No campo social, haverá sempre uma multidão lutando contra um vizinho invejoso, contra as drogas, caminho este, muitas das vezes buscado por filhos e outros parentes, em decorrência de fraquezas espirituais, haverá sempre alguém buscando um filtro de amor, para ter alguém querido no seu leito, haverá sempre alguém buscando uma limpeza espiritual, para buscar um emprego, ou uma melhoria de cargo no emprego que já possui, visto que, já é do ser humano, nunca estar satisfeito com o que tem, esta luta, pelo querer mais é perene (eterna).


 A nossa abordagem sobre este tema, é para tornar público até que ponto, a prepotência das pessoas pode chegar. De que forma? Como asseveramos supra, a internet está cheia de “sabichões”, em todos os campos sejam eles sociais, científicos e como não poderia deixar de ser, no campo religioso. O qual é o objeto deste artigo.

Senão vejamos, no nosso dia a dia, intramuros, das nossas casas de santo, terreiros, abassás, querebetans, entre outras denominações, recebemos uma multidão de pessoas, que nos procuram na busca de soluções para os mais variados problemas, sejam de ordem material, amorosa, familiar, de saúde e principalmente espiritual. No afã de encontrar um caminho uma solução, pouco importando, se, são merecedores ou não, pois acham que as benesses espirituais, também, são accessíveis de incorporá-las a sua área de propriedade, bastando para isso, ter dinheiro. Aquele velho adágio! “Se tenho dinheiro, tudo posso”.

E o que muitos, até mesmos os prestadores de serviços espirituais, ainda não se deram conta, por que, uma grande leva desses prestadores, o que é lastimável, para o nosso segmento espiritual, visam, acima de tudo, o ganho fácil, pouco importando, o compromisso imparcial, que se deve ter para com os orixás, nkisses, voduns, exus, caboclos, pretos velhos e encantados, porém, para nossa felicidade, esses negociadores espirituais, estão em menor número, e esta prática somada, a “esperteza” de outros sabichões do candomblé, os chamados “clientes”, para eles, claro! Os negociadores da fé. Não para nós, os verdadeiros compromissados com os verdadeiros postulados afro-espirituais, que olhamos esta questão sob a ótica do merecimento e da missão que temos por herança divina, de ajudar a todos indistintamente, porém, sabendo, que muitos “destes todos”, têm suas reticências.

Procuramos olhar com os olhos de ver, nos atendimentos realizados, o verdadeiro perfil de cada um que nos procura;

Pois, “tão espertos que acham que são”, que já trazem para a consulta, suas anotações ou “decoreba”, sobre quem são os seus orixás, nkisses, voduns, exus, pretos velhos caboclos ou encantados, visto que, adredemente (anteriormente), já foram consultar o “pai dos burros”, o Google, para saber aquilo, que é publicado, sempre de forma incorreta, vaga, mentirosa, capciosa, (com raras exceções, para não sermos injustos). E que esses consulentes, terminam se identificando com muitas dessas teorias afro publicadas na internet, então ele pensa: “Já irei fazer a consulta, somente para confirmar o que já sei, se o Pai de Santo (Babalorixá) vier com algo diverso do que aprendi na internet, vou chamá-lo de mentiroso, ou nunca mais voltarei a casa dele”.
Caríssimos leitores internautas, o que esses sabichões, não sabem, é que a cultura afro, envolve, duas facetas, uma das quais se pode falar e mostrar, e outra, que é e deve permanecer envolta sob o manto do mistério.






Nada no campo afro é igual para todo mundo, cada um possui um conjunto espiritual que precisa ser sopesado, e avaliado, segundo a analise do perfil espiritual de cada uma dessas pessoas.

Da mesma forma, que os “jogos de Ifá”, não são iguais, possuem apenas algumas regras de caráter geral, todavia, cada “olhador de búzios” (Babalorixá), tem seu próprio “modus operandi” (modo de operar), as forças responsáveis para nos mostrar os caminhos e descaminhos dos consulentes, cada um imprime suas marcas indeléveis (marcantes) pessoais, todos os chamados “carregos espirituais”, que é o conjunto de entidades que possuímos, e com as quais estabelecemos regras válidas para os nossos jogos de Ifá. Porém, é bom não esquecer, que existe um diferencial, do qual nós operadores do culto afro não podemos esquecer, que é a intensidade mediúnica que cada um tem, que nunca é igual para todo espiritualista.

E essa diferença irá repercutir, nos tipos de magias, feitiços, contra feitiços, sacramento de orixás nos seus neófitos (iniciados), limpezas espirituais, firmesas de caminhos, e tantas e tantas outras benesses, que podemos conseguir para essas pessoas, menos para os “sabichões do Candomblé”.






 Contextualização de João Batista de Ayrá, babalorixá, advogado e jornalista, editor deste Blog.