segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Apenas uma questão de querer

A associação dos deuses do panteão
africano, os encantados e exus brasileiros, ao
diabo cristão, antecedem o surgimento das
igrejas eletrônicas na década de oitenta, mas
foi a partir dessa década que a cultura de
massa foi condicionada a ter acesso maior
sobre a religião afro-brasileira. Parte da doutrina
cristã pentecostal tem pautado, nas últimas
décadas, os seus trabalhos de evangelização
apostando na máxima de que candomblé
e umbanda são celeiros de demônios.
E essa guerra santa, hoje não mais tão silenciosa,
desdobra-se em muitos eventos envolvendo
principalmente
candomblecistas/umbandistas e grupos
evangélicos mais radicais, que teimam nessa
associação ridícula, e com isso os ânimos são
cada vez mais acirrados, a tal ponto que nos
dias atuais a religião- afro, em um crescente
amadurecimento resolveu transpor os seus
muros e ganhar as ruas, levando à sociedade
o conhecimento da opressão que vem sofrendo
por parte desses grupos. Se no passado, a
opressão era por parte dos senhores de escravos,
nos dias de hoje, é por parte de grupos
agasalhados em denominações várias,
intituladas como fragmentos da religião pentecostal.
O amadurecimento do movimento de repressão
a essas agressões formou grupos seletos
de espiritualistas que através de ações
conjuntas e positivas têm feito valer os seus
direitos de culto garantido na Constituição
Federal, e em várias Leis esparsas que aumentam
esse domínio, como por exemplo, a
Lei Caó (nº Lei 7.716/89 em seu artigo 20, § 2°.
º), que enquadra como crime inafiançável e
comparado ao crime racial, punindo com
maior severidade, aqueles que, não importando
o meio utilizado (escrito, falado, televisado),
de forma direta ou indiretamente
comete ato de intolerância de cunho religioso.
E assim, num crescendo cada vez menos
sutil, galgam-se degraus políticos, jurídicos e
sociais, na busca pelo respeito pleno ao direito
de culto. Louvados sejam esses movimentos,
e aqueles que a frente dos mesmos,
expõe-se a criticas, elogios, e perseguições. É
disso que os espiritualistas precisam. É nisso
que devem se envolver cada vez mais. E isso
deve se tornar um hábito, na busca de uma
soberania, não a soberania tirana, que impõe
seus postulados a quem não os professar,
mas tão somente, uma soberania de respeito
à liberdade de culto, pautando sempre pela
reciprocidade, pois será respeitando a si
mesmo e a seus iguais, e depois seus diversos
(crentes de outras religiões), que a religião
espiritualista surgirá finalmente como
uma opção verdadeira, a quem quer que
queira entrar na mesma, para deixar de ser
uma religião tão somente de laço consangüíneo,
que afasta e discrimina, pois quem não
quer ser discriminado jamais deverá discriminar

Editorial postado no Jornal Brasil Candomble Verdade pelo seu editor
João Batista de Ayrá/advogado/jornalista/babalorixá