terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Rio inaugura
delegacia especializada em combater crimes raciais e de intolerância
Data: 18/12/2018
Categoria: Casos de Racismo, Defenda-se
No evento, a campanha “Liberte Nosso Sagrado”
cobrou a devolução de objetos religiosos apreendidos pela polícia
Por Clívia Mesquita, do Brasil de Fato
Policias
estão passando por uma série de capacitações para atender vítimas de crimes
como homofobia, racismo e intolerância religiosa / CARL DE SOUZA / AFP
Na última quinta-feira (13) a Polícia Civil
inaugurou na Rua do Lavradio, n º155, região central da cidade, a Delegacia
Especializada em Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Segundo o
delegado titular da unidade, Gilbert Stivanello, os policias estão passando por
uma série de capacitações para atender as vítimas de crimes como racismo, xenofobia,
intolerância religiosa e homofobia.
No mesmo endereço também funciona a Delegacia da
Criança e Adolescente Vítima (DCAV) e a de Proteção à Criança e ao Adolescente.
Estiveram presentes na inauguração representantes do poder legislativo,
judiciário, autoridades da área de Segurança Pública e também lideranças de
diversas religiões.
A campanha Liberte Nosso Sagrado
“É importante dizer que esses passos vêm de longe e
que são mais de 10 anos acompanhando esse movimento que hoje se materializou”,
palavras da Mãe Meninazinha de Oxum, grande líder do movimento Liberte Nosso
Sagrado.Durante o evento que marcou a inauguração da Delegacia Especializada,
representantes da campanha cobraram a devolução de objetos sagrados apreendidos
pela polícia quando as religiões de matrizes africanas eram criminalizadas por
lei no Brasil.
Jorge Santana, membro da campanha Liberte Nosso
Sagrado e um dos diretores do documentário “Nosso Sagrado”, ressaltou a luta de
mais de 70 anos para o resgate dos objetos.
“A gente tem como propósito retirar esses objetos
de lá porque desde 1945 essas religiões deixaram de ser criminalizadas e os
objetos não foram devolvidos aos seus verdadeiros donos que são as lideranças
religiosas da umbanda e do candomblé”, explicou.
O filme “Nosso Sagrado” foi mais um desdobramento
da campanha e se tornou uma importante plataforma de denúncia do descaso das
autoridades para com as religiões de matriz africana no Brasil. O documentário
resgatou, a partir de depoimentos de ialorixás e pesquisadores, o histórico de
perseguições por parte do Estado. O diretor do filme, Fernando Sousa, destacou
o aspecto do racismo religioso presente na postura das instituições.
“A gente discute a importância que esses objetos
sagrados têm para a umbanda e o candomblé, e a gravidade deles estarem ainda
hoje no Museu da Polícia Civil, do fato de já terem sido classificados como
coleção de magia negra e expostos de forma inadequada” , disse.
O documentário, produzido pela Quiprocó Filmes, tem
percorrido festivais como o Los Angeles Brazilian Film Festival, onde será
apresentado na próxima semana, e feito debates em terreiros e escolas públicas
sobre racismo religioso.
Marco Teobaldo, que também participa da campanha
pela transferência dos objetos para o Museu da República, apontou a necessidade
urgente de cuidado do acervo para evitar a sua completa deterioração.
“No momento, o acervo está sendo vistoriado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Museu da
Polícia, a gente acompanhou algumas das vistorias, o acervo não está em bom
estado e realmente precisa ser cuidado da maneira que merece porque é a
primeira coleção tombada pelo IPHAN em 1938”, diz o curador do Instituto Pretos
Novos.