'Religião separa as pessoas mais do que as une', diz diretor de 'A tentação'
Matthew Chapman escreve e dirige longa sobre fundamentalista religioso.
Ele também comenta seu próximo trabalho, ao lado de Glória Pires.
G1 – No seu site, 'A tentação' é descrito como 'um thriller filosófico'. O que você quis dizer exatamente com isso?
Matthew Chapman – Bem, todo thriller tem alguma coisa contra a qual você está lutando, então você quer descobrir quem matou quem, onde está determinada pessoa... A minha questão [em “A tentação”] é a diferença filosófica entre dois homens. Mas eu não quis soar pretensioso – é realmente um thriller e uma história de amor.
Chapman – Eu acho que, lamentavelmente, religião separa as pessoas – mais do que as une. Quer dizer, se você olhar para os judeus e para os árabes, eles comem a mesma comida, eles vivem na mesma terra, eles dividem em grande parte os mesmos mares, eles são mães e pais, têm filhos, ou seja, têm muitas coisas em comum. A única coisa a dividi-los é disputa por território e religião.
Chapman – Sim, é, foi uma preocupação. Eu escolho os atores que acredito ter muito dos personagens neles mesmos, e eles ainda são seres humanos interessantes. Uso humor também. E, no meio dessa batalha filosófica, há uma verdadeira dor emocional para todo mundo. É interessante, porque algumas pessoas, ao perder alguém próximo, pensam que não pode existir um Deus, já que, se Ele existisse, não faria isso [tiraria uma vida]. Outras pessoas dirão: “Oh, meu Deus, eu perdi meu filho (ou meu marido ou minha esposa), eu preciso ter Deus ao meu lado, para me ajudar a superar isso”. Mas, no meio de tudo, há sempre a dor do ser humano.
Chapman – Estou tentando fazer os candidatos a presidente a debaterem sobre ciência. Nós conseguimos na eleição passada que Obama respondesse às perguntas, e agora estamos tentando fazer com que ele concorde de novo. O que queremos mesmo é um debate cara a cara sobre mudanças climáticas, preservação dos oceanos, água potável, extinção de espécies, vacinas – todas essas questões que vão definir nosso futuro.
Chapman – Não. E não me interessava nem pelo Darwin. Porque na Inglaterra, na Europa como um todo, realmente ninguém realmente questiona a evolução. Foi só quando vim para os Estados Unidos que vi pessoas dizendo que a Terra tinha 10 mil anos de idade e que Deus criou Adão e Eva, todos os animais foram colocados dentro da arca – isso é inacreditável num país sofisticado assim.
Chapman – Sim, e de um jeito muito complicado. Porque acredito que os filmes podem melhorar as pessoas, fazê-las enxergarem umas às outras com clareza, serem compreensivas. Se isso é possível, o oposto também é. Acho que os filmes americanos se tornaram ofensivamente violentos – isso é triste, grotesco e esquisito. Por que, sendo o país mais poderoso do mundo, você precisa continuar celebrando o quanto você é durão? Se você é durão, você não precisa ficar fazendo propaganda disso o tempo inteiro. Então, acho que esse “cinema americano de macho” é, na verdade, revelador da fraqueza nas entranhas do país. Lamento admitir isso, mas... (risos).
Chapman – [Pensa alguns segundos] Sim, acho que eles são. Como eu disse, acho que podemos ter um cinema que é bom e então tornar as pessoas melhores. Mas o contrário também vale: [com um cinema que é ruim] você pode fazer as pessoas achar que as outras são alvos a serem atingidos.
Chapman – Estou sempre indo e vindo, faz cerca de 20 anos. A última vez foi há coisa de seis semanas. Fui trabalhar com um diretor brasileiro, Bruno Barreto, escrevi um roteiro para ele, com a Glória Pires, [o filme] é sobre Elizabeth Bishop e Lota de M. Soares. A produção agora está vindo para Nova York, para rodar umas cenas aqui.
Chapman – Ela é incrível. Acho que é uma das melhores atrizes que já vi – e eu já dirigi Helen Mirren, Jennifer Jason Leigh, Liv Tyler. Enfim, já dirigi atrizes muito boas, e Glória Pires está no mesmo patamar, além de ser uma mulher adorável.