A
VIDA IMITA A ARTE – ATOR DO VELHO CHICO MORRE AFOGADO NO RIO SÃO FRANCISCO EM
UM MOMENTO DE LAZER
O Brasil amanhece de luto, após a morte
do ator principal da novela Velho Chico levada ao ar Pela Rede Globo de
Televisão no horário nobre das nove. A novela procura levar ao telespectador a
reflexão sobre a morte do “Velho Chico”, por vários motivos, tais como a
transposição, o desaparecimento dos peixes, a diminuição do volume d’água, as
dificuldades das comunidades quilombolas, que ainda margeiam o grandioso Velho
Chico, entre outras causas.
O Rio São Francisco conhecido como o
Rio da unidade nacional, visto que nasce e morre em território nacional, no
passado, antes da vinda do branco colonizador, o mesmo era margeado por
centenas de tribos de índios, que dele (Rio)
sobreviviam, e aos poucos foram
sendo dizimadas pelas doenças trazidas pelos brancos, e pelo avanço na
construção de centenas de cidades as margens do Rio, tudo em nome do progresso
e da modernidade, e assim, os verdadeiros donos das terras (os índios) foram desaparecendo,
para dar margem a um crescimento marginal (paralelo) do Rio, devastador,
mormente, quanto à chamada cultura de subsistência, a chamada cultura de
agricultura familiar.
A construção da hidrelétrica de Paulo
Afonso, que diziam iria trazer progresso para a região, até os dias atuais,
ainda não cumpriu o seu papel, haja vista as altas contas de luz pagas pelos
que utilizam a energia produzida pela referida hidrelétrica, naquelas regiões
nordestinas.
Outro mote, que a novela procura
levar o telespectador a reflexão, é quanto à política atualmente vivida pela
sociedade brasileira, quanto à corrupção política que grassa em todos os
níveis, papéis capitaneados pela “professora Beatriz e o vereador Bento dos
Anjos”, cujos papéis servem de alerta aos telespectadores e ao mesmo tempo eleitores,
para que saibam escolher seus candidatos nestas eleições que se aproximam, para
que não se repitam as Dilmas, Os Lulas, os Aécios, os Eduardos Cunha, os
Delcídios do Amaral, os PTs, os PCDBs, entre outros, o desemprego, a fome, o sucateamento da saúde
em todo o Brasil, a alta carga tributária, o subemprego, a violência em todos
os níveis, visto que tudo passa pela política.
O mote da novela é muito
significativo, e trás uma contribuição a sociedade brasileira, um alerta, um
aviso, que não pode ser deixado de lado, e deve ser avaliado por todos nós.
Quanto à tragédia, acredito, como
espiritualista, nascido no Estado do Maranhão, praticante do Tambor de Mina Gêge
Nagô de raiz maranhense, no Rio de Janeiro, que o pecado dos autores da novela,
talvez, tenha sido pelo fato de nas suas pesquisas preliminares, que sempre
antecedem o roteiro de uma novela ou filme, foi terem deixado (presunção), de
avaliar o lado místico que rodeia toda a existência do Rio São Francisco, haja
vista, que o mote espiritual, quanto aos “encantados”, os mistérios espirituais
do Rio, a figura emblemática do grande protetor do Rio (um deles), o “ Nêgo
Velho do Rio” ou “Nêgo D’água”, é um encantado de justiça que existe, e pune
aqueles que tentam e agridem o que resta do “Velho Chico”, e protege os
pescadores; a “Gaiola do Mortos”, que muitos dizem tratar-se apenas de uma
lenda urbana, na realidade, é uma verdade comprovada por todos que lá residem.
O Rio, que tem como Deusa principal,
a Orixá Oxum e seu filho Logum Edé, que banham-se nas noites de luar, abençoando
aqueles que respeitam o seu reino, reino de calmaria, mas também, traiçoeiro,
para aqueles que não estejam acostumados com o traquejo dos rios, some-se a
esta Deusa, a influência dos “encantados”, dos espíritos daqueles que por
desobediência, foram tragados pelas águas e mistérios do “Velho Chico” e que
nele de alguma forma se encantaram.
Oh! Como é linda a história mística dos
nossos antepassados, dos nossos ancestrais, e como tal, devemos respeitá-la, ofenda-la,
e cultuá-la.
Valendo aqui reproduzir trecho de poema da CIA. DE
TEATRO MISTURA “AS LENDAS DO VELHO CHICO”.
”.........Pois,
aqui, nas barrancas do Velho Chico também temos nossos mitos e
lendas.
Porque,
humildemente, o homem não sobrevive sem eles: um amigo o culto a lhe ajudar; um
protetor infalível para lhe guiar; um deus piedoso para lhe guardar.
Assim como a música,
a poesia, o teatro, a pintura... O que seria do mundo se elas não existissem...
Ainda hoje, o homem
não conseguiu viver desconsiderando o Sagrado, fazendo vista grosso pro Desconhecido,
ocultando o Misterioso, desprezando a “Força Estranha”, o “invisível”, porém
sempre muito previsível...
E nas suas mais
extensas margens este Ma(r)jestoso espalha seus Encantos, seus Encantamentos,
seus Encantados, que alimentam a alma coletivo deste povo crente e cantador,
como a água sagrada que mata a sede do seu dia a dia.
Sendo assim, o
protetor do rio, é o Cumpadre D água. Dono da pesca e do pescador. O
companheiro inseparável nas noites solitárias dos pescadores humildes desta
Beira de Rio Profundo.
Para além da
imaginação, temos também o Vapor, que de tanta vida encantou-se, que de tanta
sorte, evaporou-se na sua própria chaminé, não ultrapassando a mágica Pedra
Preta.
Sem contar as lindas
Carrancas Feias das proas dos barcos, guardiã dos pescadores, que além de
proteger os barcos dos maus espíritos, ainda afasta as tempestades fatais...
Mas, tudo isso era
muito mais forte, tinha muita mais magia e mistério no tempo que a cidade vivia
de frente pro “Margestoso” São Francisco.
...E QUEM DUVIDARÁ
QUE A VIDA NÃO É A MAIS ENIGMÁTICA DE TODAS LENDAS E A MORTE O MAIOR DE TODOS
OS NOSSOS MITOS...”.
Bem!
Voltando ao nosso tema, quero lembrar, que em todo o norte nordeste coabitam
vários cultos afro-ameríndio-brasileiros, tais como o Xambá, o Candomblé de
Caboclo, O Culto a Jurema, (com seus Juremeiros), o Catimbó, a Quimbanda, a
Umbanda entre outros.
Aproveito
aqui para passar para vocês uma prática muito comum lá no Maranhão:
“Quando uma pessoa morre afogada
em um rio ou um Igarapé (braço do mar que adentra na terra), e o corpo não é
encontrado, os familiares mandam bater um “Tambor”, para buscar uma resposta se
o corpo pode ou não ser encontrado, se a resposta for positiva, forma-se um
ritual, composto de pessoas ligadas à família e a comunidade de Terreiro, que
em um dia e em uma hora marcada, geralmente à noite, a bordo de várias canoas,
o cortejo comandado por um “pagé”, ou “curador”, ou “feiticeiro”, ou babalorixá,
ou “voduno”, entre outros, adentram no Rio ou no Igarapé, toma-se de uma cabaça
grande cortada ao meio, e na parte inferior coloca-se uma vela acesa, um pouco
de “cachaça e fumo de rolo, quando então é colocada sobre as águas, e deixa-se
que a marola ou a maresia a leve, então o cortejo, segue esta cabaça
lentamente, até que ela pare em algum lugar, parando, ignifica que o corpo do
afogado se encontra naquele lugar, então os mergulhadores jogam-se na água na
busca do corpo”.
É bom lembrar, que nem sempre, o
corpo é encontrado, esta resposta já é
obtida quando da realização do Ritual do Tambor de Oferenda”. Quando isto
acontece, é por que o afogado, foi levado para as profundezas d’água, por algum encantado, e aí, não tem jeito, basta mandar rezar a missa e
encomendar o corpo e se conformar. São os mistérios da encantaria.
Por
tais motivos, que até para se apanhar uma cuia d’água no rio, deve fazer um orô
(encantamento), ou seja, pedir licença, para os donos daquele lugar, para que
não se obtenha aquilo que não se foi buscar.
Quanto ao ator, arrastado pelas
águas puras, límpidas e traiçoeiras do “Velho Chico”, tenham os senhores,
certeza, que ainda não estava na hora dele, o acontecido com ele, foi um
resgate, pela desnudez dos mistérios do “Velho Chico”, sem a devida
autorização. Mas quem o levou, saberá o que fazer com o espírito dele, que é
inocente, pois estava sob o comando de terceiros, e somente lhe cabia obedecer.
Quero encerrar esta matéria, transcrevendo aqui dois cânticos
sacros, um de conhecimento restrito, e outro de conhecimento geral, para que
reflitam:
“Canoeiro, canoeiro, canoeiro de São João”!
“Canoeiro, canoeiro, canoeiro de São João”!
“Leva “Seu Zé Pelintra”, para o outro lado do sertão”.
“Leva “Seu Zé Pelintra”, para o outro lado do sertão”.
“São Francisco mandou dizer, São Francisco mandou falar,
“só sabe fazer feitiço, quem sabe rezar”!
“São João me deu um cajado, para pelo mundo saber andar,
“levando paz e felicidade a todo aquele que precisar”.
2ª
Oração de São Francisco de Assis
Senhor, fazei-me instrumento de vossa
paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
- São Francisco de Assis.
Esta é a homenagem que o Brasil Candomblé Verdade faz ao ator Domingos Montagner.
Contextualização: João Batista de Ayrá, advogado, jornalista, babalorixá do Tambor de Mina Gêge-Nagô do Maranhão. que tem seu Axé em Duque de Caxias , RJ.
onde recebe convites para palestras e trabalhos espirituais.
contatos: E-Mail.: drjbayra@hotmail.com / Tel. 99136-4780 e (21) 2671-1988.