sexta-feira, 29 de novembro de 2019
Aras recebe pedido para anular nomeação do
presidente da Fundação Palmares
Representantes de movimentos negros entregaram
representação ao procurador-geral da República pedindo que Sérgio Nascimento de
Camargo seja destituído da função
postado em
29/11/2019 13:43
Camargo
foi nomeado para a função na terça-feira (26/11). Desde então, algumas
declarações do novo presidente da Fundação Palmares vieram à tona(foto: Augusto Fernandes/CB/D.A Press)
Pelo menos 60 militantes de movimentos negros formularam
um documento de repúdio à nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo à
presidência da Fundação Cultural Palmares e, nesta sexta-feira
(29/11), entregaram a representação ao procurador-geral da República, Augusto
Aras, pedindo que a indicação de Camargo para a chefia do órgão seja
anulada.
No documento enviado a Aras, as entidades destacam
que “a nomeação do senhor Sérgio Nascimento de Camargo (para presidir a
Fundação Palmares) mostra-se absolutamente antijurídica e contrária ao
interesse público, uma vez que sua trajetória, historicamente, é radicalmente
contrária aos interesses que a Fundação busca defender”.
Camargo foi nomeado para a função na terça-feira
(26/11). Desde então, algumas declarações do novo presidente da Fundação
Palmares vieram à tona, como as que a escravidão foi “benéfica para os
descendentes”, e que não existe “racismo real”.
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Ele também defendeu já a extinção do
movimento negro — por entender que “não há salvação” para estes grupos
—, e do Dia da Consciência Negra, pois, para ele, o feriado causa
“incalculáveis perdas à economia do país” ao homenagear Zumbi dos Palmares —
que dá nome à Fundação Cultural —, classificado por Camargo como “um falso
herói dos negros”.
“Diante de tais posicionamentos, resta evidente a
incompatibilidade entre a trajetória e os valores de Camargo e aqueles valores
que a lei determina que devem ser perseguidos pela Fundação Cultural Palmares.
Tal incompatibilidade torna evidente que a referida nomeação tem como objetivo
frustrar, não apenas a persecução dos objetivos legalmente atribuídos à
Fundação, como o cumprimento do dever de enfrentamento do racismo institucional
e estrutural e da promoção da igualdade racial expressamente abrigados na
Constituição, o que configura claro desvio de finalidade”, frisam os militantes
na representação.
Eles ainda alertam que “apesar da livre nomeação
para o referido cargo prevista em lei, a designação de pessoas para o comando
de órgãos com o claro intuito de desestruturá-los fere os princípios básicos
que regem a administração pública”. Assim, os militantes também pedem que o
procurador-geral da República adote procedimento para apurar a responsabilidade
do ministro-chefe da Casa Civil substituto, Fernando Wandscheer Alves — que
efetivou a nomeação de Camargo à presidência da Fundação Palmares —, a quem
acusam de cometer ato de improbidade e ter agido em abuso de poder.
“(Fernando) ao nomear Camargo para a presidência da
Fundação Palmares violou todo o arcabouço constitucional que obriga o Estado a
enfrentar o racismo institucional e estrutural e a promover políticas de
promoção da igualdade racial, uma vez que o indicado para o órgão responsável
por concretizar esses deveres contesta a escravidão e a existência do racismo
entre nós”, destacam no documento.
Protesto no gabinete
Nesta manhã, alguns dos militantes que
assinaram a representação fizeram protesto na sede da Fundação Palmares em
Brasília. Eles levaram cartazes com críticas a Camargo e pediram a sua saída da
presidência da instituição. O grupo chegou a entrar no prédio da instituição e
subir ao gabinete de Camargo, no entanto, ele não quis falar com os
manifestantes.
Segundo o advogado Marivaldo Pereira, o
comportamento de Camargo demonstra “uma ofensa muito grande”, “Várias áreas
onde nós conseguimos alguns avanços, depois de muita luta e muito sofrimento,
estão sendo atacadas nesse governo. Nomear alguém com a trajetória do Sérgio
para presidir a Fundação Palmares é uma violência muito grande. É um atentado
contra a história de luta do movimento negro do país. É pisar em cima dos
sentimentos de toda a população negra que, desde a abolição da escravatura,
veio lutando por gerações e gerações para conseguir o mínimo de direitos”,
desabafou.
Marivaldo ainda definiu e a nomeação de Camargo
para ser presidente da Fundação Palmares como “um retrocesso sem precedentes”.
“Nós vamos lutar contra isso. Vamos recorrer a todos os meios jurídicos para
tentar anular essa nomeação e ficar em cima de todos os atos que ele praticar
para desmontar as políticas atualmente existentes”, garantiu o advogado.
Não há arrependimento', diz deputado que arrancou
cartaz sobre racismo
postado em
20/11/2019 10:30
"Não há arrependimento. Quem foi atacada foi a
Polícia Militar", afirma o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) que entrou no
centro do debate político nesta terça-feira, 19, ao arrancar um cartaz em um
exposição sobre o racismo na Câmara.
Na imagem, um policial de arma na mão e um rapaz negro estendido no chão, com a camisa do Brasil e algemado. No cartaz, lia-se a frase "O genocídio da população negra".
O ato do deputado provocou reação imediata de deputados que acusaram o militar de racista. Tadeu se defende elogiando a exposição e negando qualquer tipo de preconceito.
Por que o senhor arrancou o cartaz?
A exposição é maravilhosa, sobre racismo. Sou favorável à pauta. Mas, no meio de tanto cartaz bonito, você vê uma agressão como essa contra a Polícia Militar? Isso é inaceitável.
O senhor se arrepende de seu ato?
Essa é uma casa de debate e, por ser a casa do debate, você precisa incentivar cada vez mais esse debate. Não me sinto arrependido. Fiz o meu papel eleito por quase 100 mil famílias de policiais do Estado de São Paulo. Só que, no momento em que venho para a Câmara dos Deputados, eu deixo de representar os policiais e passo a representar toda a sociedade. Eu não poderia admitir uma agressão daquela altura. Quem sabe que a forma não foi tão acertada, mas a medida foi correta. Não há arrependimento. Quem foi atacada foi a Polícia Militar.
O senhor fala em contraponto, mas já havia um ofício da Frente de Segurança Pública pedindo a retirada do material. O senhor não acha que ultrapassou o limite?
Infelizmente, eu não sabia que havia o ofício. Se eu soubesse que havia um pedido formal de retirada, eu não teria feito isso. Meu estilo não é de usar esse tipo de atitude.
O senhor está sendo acusado de ter quebrado o decoro parlamentar...
De jeito nenhum. Não ofendi um parlamentar. Não ofendi nenhuma pessoa. Simplesmente eu exerci o meu mandato. Mais do que nunca defender quem precisa ser defendido. E, aqui, estamos tratando de uma agressão e não de uma exposição. Estamos tratando de uma agressão a um determinado público. E isso não pode ser permitido.
O senhor foi acusado de racismo por essa atitude...
Nesse momento as vítimas de racismo foram os polícias que foram acusados de serem os executores, homicidas. A mensagem é imprópria e não deveria estar dentro da Câmara dos Deputados.
A sua atitude hoje ocorre no dia em que está confirmado que a morte da menina Agatha Moreira, de oito anos, no Rio, foi causada por um tiro partido por um policial...
Pergunta ao policial se ele queria matar a menina. Quantas vítimas de bala perdida nós temos. O fato de ser hoje é apenas uma mera coincidência. Aquele projétil não tinha aquele endereço e, infelizmente, ele vitimou uma criança. Polícia não quer matar inocente.
Na imagem, um policial de arma na mão e um rapaz negro estendido no chão, com a camisa do Brasil e algemado. No cartaz, lia-se a frase "O genocídio da população negra".
O ato do deputado provocou reação imediata de deputados que acusaram o militar de racista. Tadeu se defende elogiando a exposição e negando qualquer tipo de preconceito.
Por que o senhor arrancou o cartaz?
A exposição é maravilhosa, sobre racismo. Sou favorável à pauta. Mas, no meio de tanto cartaz bonito, você vê uma agressão como essa contra a Polícia Militar? Isso é inaceitável.
O senhor se arrepende de seu ato?
Essa é uma casa de debate e, por ser a casa do debate, você precisa incentivar cada vez mais esse debate. Não me sinto arrependido. Fiz o meu papel eleito por quase 100 mil famílias de policiais do Estado de São Paulo. Só que, no momento em que venho para a Câmara dos Deputados, eu deixo de representar os policiais e passo a representar toda a sociedade. Eu não poderia admitir uma agressão daquela altura. Quem sabe que a forma não foi tão acertada, mas a medida foi correta. Não há arrependimento. Quem foi atacada foi a Polícia Militar.
O senhor fala em contraponto, mas já havia um ofício da Frente de Segurança Pública pedindo a retirada do material. O senhor não acha que ultrapassou o limite?
Infelizmente, eu não sabia que havia o ofício. Se eu soubesse que havia um pedido formal de retirada, eu não teria feito isso. Meu estilo não é de usar esse tipo de atitude.
O senhor está sendo acusado de ter quebrado o decoro parlamentar...
De jeito nenhum. Não ofendi um parlamentar. Não ofendi nenhuma pessoa. Simplesmente eu exerci o meu mandato. Mais do que nunca defender quem precisa ser defendido. E, aqui, estamos tratando de uma agressão e não de uma exposição. Estamos tratando de uma agressão a um determinado público. E isso não pode ser permitido.
O senhor foi acusado de racismo por essa atitude...
Nesse momento as vítimas de racismo foram os polícias que foram acusados de serem os executores, homicidas. A mensagem é imprópria e não deveria estar dentro da Câmara dos Deputados.
A sua atitude hoje ocorre no dia em que está confirmado que a morte da menina Agatha Moreira, de oito anos, no Rio, foi causada por um tiro partido por um policial...
Pergunta ao policial se ele queria matar a menina. Quantas vítimas de bala perdida nós temos. O fato de ser hoje é apenas uma mera coincidência. Aquele projétil não tinha aquele endereço e, infelizmente, ele vitimou uma criança. Polícia não quer matar inocente.
Parte superior do formulário
A Fundação Palmares é o órgão responsável pela promoção da cultura afro-brasileira. A nomeação de Camargo foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira.
racismo “nutella”, ao contrário dos Estados Unidos, onde o racismo seria “real”. "A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", disse.
Em 15 de setembro, o jornalista publicou que no Brasil existe um tipo de
Em 27 de agosto, escreveu que a escravidão foi "terrível, mas benéfica para os descendentes" porque negros viveriam em condições melhores no Brasil do que na África. Também já disse sentir "vergonha e asco da negrada militante".
Camargo defendeu a extinção do feriado do Dia da Consciência Negra por decreto, porque, para ele, a data causa "incalculáveis perdas à economia do país" ao homenagear quem ele chamou de um "um falso herói dos negros", Zumbi dos Palmares — que dá nome à fundação que ele agora preside.
Também afirmou que o feriado foi feito sob medida para o "preto babaca" que é um "idiota útil a serviço da pauta ideológica progressista".
Em um dos posts, ainda segundo a reportagem, ele disse ser favorável a que "alguns pretos sejam levados à força para a África", e cita Lázaro Ramos e Taís Araújo (classificada de "rainha do vitimismo") como exemplo. "Sugiro o Congo como destino. E que fiquem por lá!", disse.
O sambista Martinho da Vila é outro que, na visão de Camargo, deveria "ser mandado para o Congo", por ser um "vagabundo". Além disso, o jornalista considera que a vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros, "não era negra" e era um "exemplo do que os negros não devem ser".
Com o mesmo desprezo se refere a Angela Davis, uma das principais líderes do feminismo negro, a quem chamou de "baranga" e "mocreia".
Camargo ainda dispara contra a cantora Preta Gil e a atriz Camila Pitanga: "ladras racistas". Segundo ele, elas se dizerem negras "para faturar politicamente e fazer discurso vitimista".
Nomes importantes da música brasileira, como Gilberto Gil, Leci Brandão, Mano Brown e Emicida, e políticos, como os deputados federais Talíria Petrone e David Miranda (ambos do PSOL-RJ), foram todos chamados de "parasitas da raça negra no Brasil".
O novo presidente da Fundação Palmares classifica o funk como "macumba" e o "funk carioca" de "desgraças do mundo" e disse que o hip-hop faz "apologia da maconha e do crime".
Numa declaração machista e carregada de preconceitos, Camargo afirma que uma mulher negra que seja "feminista, lulista e afromimizenta não pode reclamar da 'solidão da mulher negra'", porque "ninguém é louco de encarar".
Sérgio Nascimento de Camargo também já fez piada com o Ato Institucional 5 (AI-5), medida tomada durante a ditadura militar. Em 1º de novembro, após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) causar polêmica por levantar a possibilidade de um "novo AI-5", publicou uma foto do presidente Jair Bolsonaro com os seus quatro filhos, acompanhada da legenda "Aí, cinco".
Em agosto, sugeriu que membros do PT sejam usados como cobaias em testes, no lugar de animais.
*A estagiária está sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz
SÉRGIO CAMARGO
Quem é o novo presidente da Fundação Palmares, que já enfrenta
resistência?
Crítico do movimento negro, Sérgio Camargo é contra cotas raciais, já
afirmou que Marielle Franco 'não era negra' e reprova o Dia da Consciência
Negra
28
nov, 2019
O
novo presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Sérgio Nascimento de
Camargo, foi nomeado oficialmente na última quarta-feira, 27, tendo o nome publicado no Diário Oficial da União (DOU).
Com
a nomeação, Sérgio Camargo se tornou responsável pelo comando da entidade
pública que tem entre suas atribuições a promoção da cultura
afro-brasileira. Segundo a Lei 7.688/1988, assinada pelo então
presidente José Sarney, que fundou a FCP, a entidade tem por finalidade
“promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes
da influência negra na formação da sociedade brasileira”.
Porém,
em menos de 24h, seu nome foi duramente repudiado, principalmente por
integrantes do movimento negro. Um abaixo assinado online contra a
nomeação foi criado e já reúne mais de 18 mil assinaturas e o Psol protocolou
uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra a ascensão de
Camargo ao cargo nesta quinta-feira, 28.
“O
PSOL entrou com representação no Ministério Público Federal contra a nomeação
de Sérgio Camargo para presidir a Fundação Palmares. É evidente que quem
relativiza o racismo e ataca e ofende lideranças negras não pode estar à frente
do órgão que fomenta a cultura afro-brasileira”, escreveu o deputado federal David Miranda, autor da
representação.
Miranda
não foi o único parlamentar a se manifestar contra a nomeação. Muitos críticos
apontam que Sérgio Camargo costuma dar declarações – , principalmente através
de suas postagens em sua página no Facebook – que vão contra todos os preceitos
da Fundação Palmares.
As
deputadas federais Talíria Petrone (Psol-RJ) e Áurea Carolina (Psol-MG)
divulgaram uma nota de repúdio contra a nomeação do novo presidente da
Fundação.
“Nas
redes sociais, Sérgio nega a existência do racismo e a importância do Movimento
Negro. Ataca símbolos da história afro-brasileira, como Zumbi e o Dia da
Consciência Negra, desrespeita as religiões de matriz africana e as manif. da
cultura periférica como o funk e o hip hop. […] Ainda, Camargo tem um histórico
de agressões a personalidades negras brasileiras, principalmente a mulheres, e
à memória da nossa querida companheira Marielle Franco, reconhecida
internacionalmente por seu trabalho contra o racismo e o genocídio da população
negra e periférica”, diz a nota assinada pelas parlamentares.
Ainda
no comunicado, as deputadas exaltam a importância da Fundação Palmares para a
luta pelos direitos dos negros, inclusive referente ao acesso à Cultura – a
entidade é ligada à Secretaria Especial de Cultura, antigo Ministério da
Cultura. Segundo a nota, a FCP foi o primeiro mecanismo institucional de
proteção e promoção ao patrimônio cultural negro no país.
“Em
37 anos, a Palmares foi decisiva p/ garantir os direitos sociais e culturais da
pop afro-brasileira, c/ políticas de reconhecimento às com. quilombolas,
proteção do patrimônio cultural e religioso negro, fomento à cultura e às artes
afro-brasileiras e produção de informações”, dizem o comunicado.
Fora
do campo político, a nomeação de Sérgio Camargo também foi repudiada. O
escritor Ale Santos, autor do livro Rastros de Resistência –
que conta histórias de luta do povo negro -, lembrou a história de Palmares,
quilombo que serviu de abrigo para diferentes figuras que hoje inspiram o
movimento negro.
“Negros
fugiam da senzala para se abrigar em Palmares, resistiram ao lado de Aqualtune,
Ganga Zumba e Zumbi por quase 100 anos. Quem se opôs, degolou Zumbi e exibiu em
praça pública como vitória para os escravagistas. Todos os homens que lutaram
ao seu lado foram assassinados. Palmares foi queimado. E mesmo assim, resistiu
na nossa memória como maior símbolo da militância. A nomeação do Sérgio Camargo
na Fundação representa a vitória de quem degolou Zumbi e seus guerreiros”, escreveu o escritor nas redes sociais.
Já
o abaixo-assinado, que pede a troca do recém-nomeado presidente da Fundação
Palmares, destaca a importância da entidade para o movimento negro e cita
declarações de Sérgio Camargo contra as manifestações em prol do movimento.
“Com
tais alegações vemos que este senhor é inapto a ocupar o cargo de presidente da
Fundação Palmares. Por isso viemos, por meio deste abaixo-assinado, exigir sua
substituição imediata por alguém com aptidão a ocupar um cargo de promoção de
políticas à população negra”, diz o documento, que segue reunindo assinaturas.
Ainda
na quarta-feira, o irmão de Sérgio Camargo, o produtor cultural Oswaldo de
Camargo Filho, mais conhecido como Wadico Camargo, também criticou a nomeação
de Sérgio Camargo para a direção da Fundação Palmares. Ativista pelo movimento
negro, Wadico usou as redes sociais para afirmar que tem
“vergonha de ser irmão desse capitão do mato”.
A
rejeição à nomeação de Sérgio Camargo chegou até o presidente Jair Bolsonaro.
Na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi questionado sobre as polêmicas
envolvendo o novo presidente da Fundação Palmares. Evitando responder as
perguntas, o presidente disse apenas que não conhece pessoalmente o
novo nomeado – anteriormente, Bolsonaro já havia dito que o
secretário de Cultura, Roberto Alvim, teria liberdade para trabalhar.
Quem
é Sérgio Camargo?
“Negro
de direita, contrário ao vitimismo e ao politicamente correto”. Assim se
descreve Sérgio Camargo, o novo presidente da Fundação Palmares, em sua página
no Facebook, na qual é bem assíduo.
A
nomeação de Sérgio Camargo integra uma grande mudança feita pelo atual
secretário de Cultura, Roberto Alvim, na Pasta. O dramaturgo assumiu a Secretaria de Cultura, ligada ao
Ministério da Cidadania, no início deste mês de novembro. Na
publicação do Diário Oficial da União na última quarta-feira outras nomeações,
exonerações e designações foram feitas na estrutura da Pasta.
No
mesmo dia em que sua nomeação foi publicada, Sérgio Camargo passou a enfrentar
a rejeição pública. Isso porque o novo presidente da Fundação Palmares reúne
inúmeras polêmicas com seu posicionamento em relação ao movimento negro e apoio
ao presidente Jair Bolsonaro.
Contrário
a cotas raciais e a adaptação de termos que podem ser interpretados como
racismo, Sérgio Camargo utiliza as redes sociais para se posicionar sobre os
mais diferentes assuntos. Uma de suas últimas lutas tem sido contra o banimento
do termo “criado-mudo” por lojas especializadas em vendas de móveis e
decorações.
A
rejeição ao termo “criado-mudo”, referente ao móvel que fica ao lado da cama,
ganhou força no último dia 20 de novembro, quando é celebrado o Dia da
Consciência Negra. Na ocasião, a loja Etna lançou um comercial explicando a origem
racista do termo e anunciou que estava começando a trocar a
palavra por “móvel de cabeceira”. A concorrente Tok&Stok parabenizou a Etna
pela iniciativa e afirmou que faria o mesmo até o início de 2020.
Sérgio
Camargo, por sua vez, usou as redes sociais para criticar a iniciativa. Usando
o jargão “quem lacra não lucra”, o novo presidente da Fundação Palmares
classificou o comercial como “uma grande besteira, uma imbecilidade”.
“A
titulo de combater o racismo, a marca Etna o estimula ao dar voz à militância
racialista, rancorosa e segregacionistas do movimento negro. Comercial
vergonhoso! Não reflete a mentalidade do negro brasileiro, e do povo em geral,
mas propaga o discurso ignorante de minorias empoderadas pela esquerda, pretos
que tornaram-se escravos ideológicos e idiotas úteis da agenda
progressista”, escreveu.
Já em 20 de novembro, Dia da Consciência
Negra, Sérgio Camargo destacou que “a consciência de todos é humana e não tem
cor!”, uma afirmação constantemente rejeitada por integrantes do movimento
negro, apontando que a frase apenas prejudica a luta pela igualdade no Brasil.
Em relação aos “esquerdistas”, Sérgio Camargo
adota a mesma postura do ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmando que
os eleitores de viés de esquerda no aspecto político serão excluídos ou
rejeitados em seu perfil nas redes sociais. “Não é intolerância, é decência e
necessidade de profilaxia moral e intelectual”, explica o novo presidente da
Fundação Palmares.
Amante
de música clássica, compartilhando também seu gosto por Chopin e Beethoven nas
redes sociais, Sérgio Camargo também já se posicionou contra o gênero
musical Hip-Hop. Compartilhando uma postagem que celebrava o Dia
Mundial do Hip-Hop, e exaltava o movimento cultural como um resgate da vida de
negros, Camargo afirmou que “o movimento que mais salvou pessoas negras no
mundo chama-se Capitalismo, que gera empregos”.
Sobre a vereadora assassinada Marielle Franco (Psol-RJ),
Sérgio Camargo afirma que a parlamentar não era negra, mas “parda (mulata)”.
Segundo Camargo, Franco apenas se autodeclarava negra para “reforçar o perfil
de ‘vítima’ e ‘oprimida’”. A vereadora, que foi assassinada em 2018, junto com
seu motorista Anderson Gomes, é amplamente defendida por integrantes do
movimento negro.
Já
em relação ao partido Aliança pelo Brasil, que está sendo fundado por Bolsonaro
e aliados, Sérgio Camargo revelou que nunca havia se filiado à uma legenda, mas
teria intenção de “quebrar a regra”. “Nasceu um partido conservador de direita
e é do Bolsonaro!”, escreveu no Facebook.
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quinta-feira, 21 de novembro de 2019
Professor da Unesp é esfaqueado e chamado de 'macaco' em Bauru
Professor da Unesp é esfaqueado e chamado de 'macaco' em Bauru
© Reprodução
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Um professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) militante do movimento negro foi esfaqueado e afirmou ter sido chamado de "macaco" em Bauru nesta quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra. O autor do crime foi indiciado pela polícia.
Juarez Xavier, 60, docente da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação do campus de Bauru e assessor da pró-reitoria de extensão universitária e cultura, foi agredido com um canivete no estacionamento de um supermercado na avenida Nações Unidas, na cidade do interior paulista, por volta das 16h desta quarta.
Conforme relatos de testemunhas, o autor, que estava no estacionamento quando Xavier chegou ao local, apontou um objeto ao docente, o ofendeu e os dois começaram a brigar. Foi quando Xavier foi atingido por golpes de canivete no ombro e num dos braços. O caso foi registrado como injúria e lesão corporal e o autor do crime foi indiciado pela polícia.
Xavier foi encaminhado à UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) Geisel, enquanto as testemunhas seguraram o autor até a chegada da Polícia Militar. O canivete usado para atingir o docente foi apreendido e enviado para perícia do IC (Instituto de Criminalística). "Fui chamado de macaco. Reagi, fui esfaqueado! Mas antes, ele sentiu a fúria negra! Laroye!", postou o professor da Unesp em redes sociais.
A reportagem não conseguiu ouvi-lo. Na mesma quarta, Xavier já havia feito postagens sobre a data. Em uma escreveu "Macaco é macaco! Banana é banana! E racismo é crime! Rebele-se!". Ele deixou a unidade de saúde no início da noite e foi à polícia registrar queixa sobre o crime.
Nesta quinta-feira (21), Xavier informou que está bem e agradeceu as manifestações que recebeu. "Amigas e amigos, estou bem. Medicado. E recuperado! Agradeço às manifestações de solidariedade e carinho! Seguimos no enfrentamento ao sistema de opressão patriarcal segregacionista e racista! Abraços e beijos!", postou o docente nas redes sociais.
A Unesp divulgou uma nota de repúdio aos atos racistas sofridos por Xavier. "Negro, o professor foi alvo de xingamentos racistas quando estava em um local público e se indignou diante do criminoso, que ainda o atacou com golpes de canivete, fazendo-o sangrar no braço e nas costas. A resposta do docente, que também prestou queixa na delegacia, foi a esperada de cidadãos defensores da diversidade frente a ações de intolerância que não podem ser aceitas em ambientes democráticos e sociedades plurais", diz trecho do comunicado da universidade.
Ainda conforme a Unesp, os atos racistas no dia da Consciência Negra "só reforçam a necessidade de dar sequência à luta contra a discriminação racial, os preconceitos, de qualquer natureza, e especialmente contra a desigualdade abissal que marca historicamente a população negra no Brasil".
Maia critica deputado do PSL por arrancar placa da Câmara
O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) destruiu uma placa sobre genocídio negro que estava na Câmara
© Divulgação
Opresidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou durante sessão do plenário a destruição de uma placa sobre genocídio negro pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) nesta terça-feira (19), na Câmara dos Deputados. A peça fazia parte de uma exposição “(Re)existir no Brasil: Trajetórias Negras Brasileiras” em homenagem ao Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro.
"Não é porque nós divergimos da posição da outra pessoa que nós devemos agredi-la verbalmente e fisicamente ou retirar de forma violenta, de uma exposição, uma peça que foi autorizada pela presidência da Câmara", afirmou Rodrigo Maia.
A mostra apresenta a história de diversas personalidades negras do país e está montada no túnel que faz ligação entre as comissões e o plenário principal e será exibida por duas semanas. A placa tinha uma charge do cartunista Carlos Latuff, com um policial de costas com revólver na mão e um jovem negro caído no chão com a legenda 'O genocídio da população negra'.
"Não é um dia que marca de maneira positiva esta Casa, muito pelo contrário. Deveríamos estar defendendo a inclusão de negros na política, a igualdade de oportunidade. Não é agredindo um cartaz que pode até ser injusto com parte da polícia, mas poderia ter uma solução que não fosse retirando pessoalmente a peça", argumentou o presidente da Câmara.
Antes de ser criticado por Rodrigo Maia, parlamentares de partidos da oposição afirmaram que vão entrar com representações no Conselho de Ética. Em um ato de repúdio, deputados se retiraram do plenário contra Coronel Tadeu.
Em resposta à crítica de Maia, o deputado Coronel Tadeu subiu à tribuna do plenário para afirmar que considerou a placa ofensiva aos policiais. Ao lado do parlamentar estavam outros deputados também de corporações policiais.
“Talvez não tivesse sido, naquele momento, a melhor forma de se tratar aquela agressão”, disse. "Naquele momento, me veio simplesmente o ato de retirar aquele cartaz e continuar a bater palma pelo Dia da Consciência Negra. Espero que os senhores até reflitam sobre a minha atitude, mas principalmente coloquem acima a minha posição", acrescentou.
Com informações da Agência Brasil
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