quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Confusão da porra: polêmica sobre outdoor de Tomate repercute entre personalidades baianas
Salvador, 02 de dezembro de 201016
A campanha da nova música do cantor Tomate está gerando uma confusão da porra! Muitos acharam uma sacada genial, outros, um absurdo sem precedentes. Difícil era ser indiferente à frase “Te amo porra”, estampada nas principais ruas de Salvador, desde sábado, dia 26.
Resultado: a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom) censurou o palavrão, que foi substituído primeiro por um borrão, depois por reticências.
A decisão teve apoio dos conservadores e repúdio dos moderninhos, mas uma coisa é certa: a polêmica foi uma ótima mídia para o cantor. “Com certeza desperta a curiosidade das pessoas.
Elas pensam ‘Que porra de música é essa?’, e vão procurar ouvir”, diz o artista, usando uma das inúmeras funções da palavrinha que, na Bahia, tem múltiplos significados.
Tanto que mereceram quatro páginas do Dicionário de Baianês, escrito por Nivaldo Lariú. “‘Porra’ já faz parte da cultura popular. Dependendo da frase, pode ser substantivo, adjetivo, advérbio, interjeição e vocativo, além de vírgula e ponto de exclamação”, diz o autor.
E é essa última função que a palavra tem na música de Tomate. “Porra foi usada como forma de potencializar o ‘eu te amo’”, diz o cantor.
Autor da canção, Átila Lima classifica a censura como um atentado à licença poética. Ele conta que se inspirou em seu próprio relacionamento amoroso para compor a música, e que a letra não tem nada de ofensivo. “Pelo contrário, eu estou dizendo que amo demais a pessoa”, argumenta.
O antropólogo Roberto Albergaria também acha que está sendo feito muito barulho por nada. “Porra não é mais palavrão.
Com o passar do tempo, ele foi perdendo a força e o sentido sexual original”, diz. Segundo Albergaria, originalmente, a palavra significa um pedaço de pau com a ponta redonda. Isso lembra um pênis e, por isso começou a ser usada com essa conotação.
Surpresa
Responsável pela polêmica campanha, que também inclui veiculação em jornais, revistas, rádio e televisão, o publicitário Fábio Avelino recebeu com surpresa o aviso verbal da Sucom. “Terça, recebemos uma ligação de um fiscal do órgão e fiquei surpreso. Não imaginava que isso fosse gerar tanta polêmica”, diz o diretor da Ponto Publicidade.
Depois da ameaça da Sucom de retirada das peças, a agência optou por borrar a tal palavra até que se encontrasse a solução definitiva: os três pontinhos. O superintendente da Sucom, Cláudio Silva, garante que a decisão não foi arbitrária. “Somos um órgão de fiscalização, recebemos denúncias de cidadãos que se sentiram incomodados com o palavrão exposto no meio urbano, e solicitamos a retirada”. Para ele, por mais que a palavra esteja se popularizando, ainda é considerada de baixo calão e ofende a moral pública.
“Com certeza, o cantor Tomate não chegaria no Domingão do Faustão e finalizaria a apresentação com um ‘que porra’”, provoca, depois de citar a Lei 12.392/99, que estabelece a proibição de qualquer meio ou exibição de anúncio, que seja atentatório à moral pública e aos bons costumes.
Se esse é o caso da música é o tema que está gerando reações e dividindo opiniões. “Acho uma bobagem censurar. Porra já faz parte do dicionário baianês. Se tá chateado, é ‘porra’, se tá alegre é ‘porra’”, diz Katê, vocalista da banda Voadois, mudando a entonação da palavra a depender do contexto.
No twitter, alguns artistas também manifestaram seu apoio ao cantor. “Abraço liga não velho, acontece!”, tuitou Léo Santana, do Parangolé. Manno Góes, do Jammil, também manifestou sua indignação: “Hipocrisia moral me irrita. Bora, @_tomate ,minha porra!!”, postou Manno, numa alusão ao hit da torcida do Bahia “Bora baêa minha porra”.
fonte:Correio da Bahia