segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Notícia publicada pela Assessoria de Imprensa em 27/11/2015 21:03
A desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
(TJRJ) Ivone Ferreira Caetano defendeu nesta sexta-feira, dia 27, a
criação de uma delegacia responsável exclusivamente para investigação de
crimes raciais. A ideia foi apresentada no encerramento do seminário
“A Trajetória da População Negra no Brasil”, realizado na Escola da
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj).
“Nós precisamos levar para frente e debater a ideia de uma delegacia
especial para crimes raciais. Isso evitaria a negligência e o descuido
acerca do tema. Quando os casos envolvendo crime racial chegam ao Poder
Judiciário, já estão deturpados. Precisamos ver o esquema como um todo,
desde lá debaixo, na prisão e na abordagem”, analisou a magistrada.
Ainda durante o evento, no painel “Violência Contra a Mulher Negra”, a
subsecretária Municipal de Inclusão Produtiva do Rio, Jurema Batista,
destacou a luta diária da população negra contra preconceitos e
ressaltou o papel das mulheres nesse cenário.
“O Brasil foi construído com o sangue, suor e o leite materno da mulher
negra. Nós enfrentamos caminhos tortuosos para conquistar o que temos
hoje. A primeira violência contra mulher brasileira foi o sequestro na
África, desmontando nossa humanidade, e que continua atualmente, pois
70% das mulheres mortas no país são negras.”, avaliou a palestrante.
A enfermeira e professora Roberta Georgia Sousa Santos fez uma reflexão
sobre a equidade na área de saúde em relação às mulheres negras,
frisando que o racismo institucional torna precário o atendimento. A
professora divulgou dados que indicam que a mortalidade materna e
infantil é maior entre negros, e a expectativa de vida de negros também é
menor no Brasil.
Já a juíza Maria
Aglaé Tedesco Vilardo, professora da Emerj, lembrou em seu discurso que
são poucos os alunos negros na escola e pediu por mais ações para mudar
esse panorama.
“Nós ainda temos
muitos caminhos para trilhar na questão racial. Eu espero que tenhamos
mais magistrados negros, pois somos representantes da sociedade, e a
população negra tem de se sentir representada aqui. Os negros que
pretendem seguir a magistratura precisam acreditar na chance de seu
sucesso”, destacou a juíza.
A escravidão no Brasil
O painel “A Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil” refletiu sobre o
tempo de Brasil Colônia e Brasil Império e avaliou o impacto que os
dois momentos históricos causaram na sociedade brasileira contemporânea,
especialmente em relação aos negros.
O presidente da Comissão Nacional da Verdade Sobre a Escravidão Negra
no Brasil, Humberto Adami, destacou que a população negra no Brasil
conhece a tortura desde os tempos da escravidão e até hoje é submetida a
ela. O advogado lembrou que a Comissão é importante à medida que traz a
reflexão sobre o Brasil atual.
“A
história do Brasil foi apagada, nós buscamos fatos para trazer à luz o
porquê do racismo do cotidiano ser tão forte. Buscar a memória da
escravidão é trazer para a sociedade brasileira um modo de entender a
nossa trajetória, nossa luta e políticas de afirmação”, ressaltou.
Relator da Comissão e procurador do Ministério Público Federal, Wilson
Prudente afirmou que a sociedade brasileira vive assombrada pela
escravidão, na figura do racismo.
JGP/AB