sexta-feira, 27 de novembro de 2009

As Águas de Oxalá.


AGUAS DE OXALAOrì Apéré ó
O Ritual das Aguas de Oxalá

As Águas de Oxalá.

Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos das águas de Oxalá, das dezenove até às vinte e quatro horas, todos os filhos e filhas da casa são obrigados a fazer um bori (obrigação que se faz coma fruta chamada obi e água) para poderem carregar as águas.

Depois desse bori, vão se agasalhar, até que são despertados pela Iyalorixá para iniciarem o preceito das águas. Os filhos do Axé, trajados de alvo, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e moringuas, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá. No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. As Águas de Oxalá.

Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos das águas de Oxalá, das dezenove até às vinte e quatro horas, todos os filhos e filhas da casa são obrigados a fazer um bori (obrigação que se faz coma fruta chamada obi e água) para poderem carregar as águas.

Depois desse bori, vão se agasalhar, até que são despertados pela Iyalorixá para iniciarem o preceito das águas. Os filhos do Axé, trajados de alvo, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e moringuas, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá. No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro.

Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro. Meia hora depois, com suas vasilhas cheias d'água, aproximam-se de um lugar apropriado, todo cercado de palha, com uma oca indígena, chamado Balué, onde se colocou o assento do velho Oxalá. Alí, todos apresentam aquelas águas à Iyalorixá, que as derrama por cima do assento de Oxalá.

São feitas três viagens à fonte ou a onde está a água, e, na terceira, a água não é mais derramada, ficando todas as vasilhas cheias depositadas no Balué, sendo colocada uma cortina branca na porta e uma esteira no chão. Cada pessoa que chega ajoelha-se sobre aquela esteira em sinal de reverência.

Algumas pessoas, os que têm orixá masculino, dão Dodobalé, deitam-se de fio ao comprido, tocando a cabeça no chão. As demais dão o Iká otun iká osi, virando-se de um lado e do outro, tocando o chão com a cabeça - são as que têm o orixá feminino. Depois dessa cortesia, a Iyalorixá, juntamente com todos os seus filhos e associados, começa a cantar uma saudação para Oxalá (Oriki)

Babá épa oó
Babá épa ó
Ará mi fo adie
Èpa ó
Ará mi ko a xeké
Axeké ko ma do dun ó
Épa Babá

Depois de cantada essa saudação, todas as pessoas pertencentes à Oxalá são por ele manifestadas e vão até o Balué, que é, como já se viu, onde está o assento do orixá.
Fazem ali determinadas reverências e cumprimentam a todos, agradecendo o sacrifício daquele dia e rogando a Odùduá para abençoar a todos.

Primeiro Domingo :

As festas começam da mesma maneira que as demais já descritas, com uma diferença: todos os filhos do terreiro são obrigados a vestir roupa branca e não podem comer absolutamente nada que contenha sal, sangue ou dendê.

No intervalo da festa destinada à troca de roupa dos orixás,os presentes são servidos de adié (galinha cozida somente com cebola e ori - limo da costa), ebô (milho branco cozido com água sem sal), com o acompanhamento de aluá.

Depois dos orixás terem trocado de roupa, a Iyalorixá dá a ordem para os Alabê tirarem o cântico apropriado à entrada de Oxalá, canto que serve também para os demais orixás, que já estão vestidos e esperam no barracão:

Agô lonã morê ua ni xê
Agô agô lonã

Aí entram três filhas manifestadas com o grande Oxalá, vestidas de alvo, trazendo em uma das mãos o opaxorô, um cajado prateado com muitos enfeites. Na cabeça usam o adê (coroa), um prateado e os outros dois de pano todo bordado, com contas brancas. Dançam ao som dos atabaques, agogôs e xequerés (cabaça revestida de contas) algumas cantigas:

Ô fururu ló ô rê ô
ô kenen en lejibô
Ilê ifá motiuá babá
Okêrêrê lejibô ô
Eru ya eru ya ô
Euá ô euá e xê

Quando se canta essa cantiga, o orixá Oxalufã - Oxalá velho - dança, curvado pelo peso de sua velhice.
Quando os Oxalá já dançaram bastante, a Iyalorixá tira a seguinte cantiga:

Babá uô ri uô
Mele rin ô
Babá uô ri uô

Os orixás se retiram do barracão, com várias filhas a ampará-los e segurar-lhes as vestes. Logo em seguida a Iyalorixá também se retira, dando por encerrada a festa e convidando a todos para assistir à festa do domingo próximo.


Segundo Domingo :

Nesse dia Oxalá recebe,das mãos de todo o terreiro, a oferenda de uma cabra,várias galinhas, patos e pombos brancos.

À tarde, depois de ser feito o Padê, o assento de Oxalá sai do Balué em cima de uma charola muito bonita,toda ornada por angélicas,
carregada pela Iyalaxé, a Iyamorô e outras duas pessoas da seita. A charola é coberta com o alá, um pano grande, todo alvo, seguro por uma das mãos de cada um que ali se encontra acompanhando a procissão.Daí seguem em direção ao Cruzeiro, reverenciando a casa do Ibó. Em seguida, voltam para a Casa Grande,nome dado a uma casa branca muito comprida, onde alguns orixá, entre eles Iyá,orixá da nação Grunci, têm assentados os seus peji.

Chegando à casa, entram com o andor, recolhem o alá e depositam Oxalá no seu peji.Depois fazem o oriki(saudação)e os orixás começam a chegar, menos os Oxalá,que já vinham acompanhando a procissão.

Em seguida, levam os orixá para trocar de roupas. No intervalo,os visitantes são servidos das mesmas iguarias do primeiro domingo - adié, ebô e aluá.
Os orixás, já de roupas trocadas, chegam ao barracão e dançam as cantigas tiradas então pela Iyalorixá.

Neste domingo,além de Oxalá, chegam outros, como Nanã, Iemanjá, Ogun.Dançam uma porção de cantigas, até mais ou menos 11 da noite, quando a Iyalorixá manda fazer a roda de costume.Uma das cantigas que ela tira agora é essa, que convida os orixá a entrarem no barracão e dançarem:

Durô dê uá loná
ê á um bó keuá jô
Durô dê uá loná
ê a un bó keuá jô

Terceiro Domingo:

(Ojó Odô ou Dia do Pilão) - Às três da tarde, começam os preparativos para o início das obrigações.As filhas da casa,em grande atividade, fazem o necessário para que, em uma hora, tudo esteja preparado na sala da casa de Oxalá, a Casa Grande.

Na procissão do Pilão,as filhas trazem bancos, mesas, panelas, balaios,tudo forrado por panos brancos e enfeitadas com ojás e com um feixe de atori (varinhas).Reúnem-se então todas as filhas, e, depois, a mãe Iyalorixá tocando seu ajá, faz as reverências precisas e com um dos atori toca os ombros das filhas de Oxalá, até que elas são manifestadas, iniciando-se assim os festejos.

Cada uma das filhas da casa vai apanhando um daqueles apetrechos,de acordo com sua posição e seu eledá(guia) Quando todos estão prontos, vão saindo em procissão para o barracão e arriam todos os objetos em ordem, fazendo uma bonita arrumação,como num peji.

Todo esse preceito é acompanhado por cânticos adequados, até que por fim os Oxalá começam a obrigação dos atori.Primeiro Oxalá se senta e a Iyalorixá lhe entrega uma das varas.Em seguida, entrega varinhas também às filhas mais velhas da casa.Tiram uma cantiga e as pessoas, que estão munidas das varinhas,vão dançando em frente a Oxalá,que, batendo com a sua própria, faz como se estivesse surrando seus filhos.

Logo após, todos vão tocando com as varinhas uns nos outros, e depois em todos os presentes, ao som da seguinte cantiga:

Uá mi xorô
Uá xorô ni ilê
Tanun apê ô
Uá mi xorô
Uá xorô ni ilê

Terminada essa obrigação, Tiram outra cantiga, que inicia a divisão das comidas:

Ô fururu lo êre ô
Ô keienen lejibó
Ilê ifan motiuá babá
Aji bô relê mojubá ô
Oluá êruáô éuáô êuáêxê
euá ô euá exê babá
euá ô euá exê

Além das comidas de costume,é servido inhame pisado em forma de bola, que vem dentro de um pilão.Depois com um novo cântico,são retirados todos aqueles apetrechos do barracão:

Xên xên un bé lôkô
Xên xên xên xên
Nilê ô xên xên?

Os orixás começam então a dançar, como de costume. Oxalá,mais belo que nunca em suas roupas maravilhosas,dança com aquele jeito calmo todo seu, sempre apoiado em seu opaxorô.

Por volta das onze horas,faz-se a roda para dar término à festa,fechando assim todo o ciclo das obrigações de Oxalá.


TEXTO.:do livro " História de um Terreiro Nagô "
Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI- Max Limonad-Joruês Cia Editora-1962
ASÉ
Aninha T'Osun


Autor: Aninha T'Osun