sábado, 21 de novembro de 2009

Bita do Barão de Codó aconselha Sarney


Bita do Barão aconselha que Sarney "Banque o Duro". Os mistérios mais insondáveis do senador e ex-presidente da Republica José Sarney podem não estar nos escaninhos dos atos secretos, no Senado. Em Codó, no Maranhão, o pai-de-santo Bita do Barão, 93 anos, encerra em muralhas de reticências os segredos espirituais de uma das carreiras políticas mais longevas do Brasil.

Comendador da República condecorado por Sarney em 1988, o pai-de-santo de terecô Wilson Nonato de Souza se fez Bita do Barão "tanto na linha branca como na linha negra". Na cidade com brumas de enigmas, a 300 km de São Luís, a religião de origem africana, mais próxima da Umbanda, cativa políticos e artistas.

Entrevistado por Terra Magazine, o guia espiritual se revela um mestre da desconversa, que é também uma arte. Aberto às perguntas amplas, fechado às específicas, demonstra amizade à família Sarney nas declarações de afeto e nos silêncios ressabiados.

Dessa forma, Bita do Barão afirmará que Sarney tem o "corpo fechado". Tarefa mais árdua será arrancar dele quando ocorreu o último papo entre os dois. O religioso aprecia uma frase certeira da desconversa: "Tô lembrado, não...".

Numa piscada de olho telefônica, porque não está lá para cultivar cercalourenços, o pai-de-santo confessará ao repórter: "O senhor vai conversar comigo, mas eu sou muito seguro...". Mais reticências, obrigado.

Aos que duvidam do poder encantatório desse sacerdote nonagenário, um exemplo visual para amornar os preconceitos ou as zangas dos ateus: o Portal Imirante, do grupo Sarney, ostenta um banner com Bita do Barão. Enquanto o "Mr. Moustache" mais famoso da República discursava, na tribuna do Senado
No topo, o anúncio do "maior festejo umbandista do Brasil", de 15 a 21 de agosto, dividia olhares com a manchete: "Sarney diz que não renunciará à presidência". Nesse mês aziago para os getulistas e abençoado para Bita do Barão, o Senado debate o futuro do seu conterrâneo. Numa rara ajuda ao ofício jornalístico, o codoense revela qual conselho daria (se é que não deu) ao amigo:

- Que ele continue no lugarzinho dele. Não banque o fraco, banque o duro - recomenda o pai-de-santo de Sarney.

Ao saber que o ex-governador do Maranhão avisou aos colegas e nomeados que ficará na presidência do Senado, o velho sacerdote abriu uma gargalhada, como quem insinua: eu não disse? Sim, era como se Sarney lhe tivesse ouvido, a milhares de quilômetros, na conquista do lugarzinho federal.