sexta-feira, 3 de junho de 2011

13 DE MAIO - A outra realidade

13 DE MAIO
Num canto de um Terreiro de Umbanda sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, apreciando o som e observando o bailado das coreiras do tambor de crioula, um solitário preto-velho entristeceu-se. De seus olhos molhados, tristes lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei porque observando, aquilo me comoveu dai resolvir perguntar:



Por que choras meu Preto Velho? hoje é dia de festa, 13 de maio , dia da libertação.
Por que a tristeza?




E ele serenamente respondeu:
- Meu filho, tá vendo essa gente toda ai? esse entra e sai, essa comilança, essa bebedeira? pois é, a comemoração é deles , eu e meus irmão não temos o que comemorar e sim lamentar pela tristeza, pela situação em que meus irmãos se encontram nos dias de hoje em que comemoramos uma falsa abolição.
Quebraram as correntes de nossas pernas e de nossos braços e amarraram as correntes do preconceito, da discriminação em nossa alma, em nossos corações.



Nossas crianças vivem os maus tratos das autoridades que se dizem competentes.

Sem direito a moradia digna

Além de lhe tirar a dignidade, lhe tiram também a infância.


Obrigada ao trabalho escravo doméstico.

Nossos antepassados viajaram até aqui
em meio a humilhação, fome, dor, doença e morte.



E sua recepção foi conhecer a obediência, o medo, a submissão
e severos castigos com o chicote e o tronco.


A pobreza e a miséria subjulgaram nosso povo


Nossos reis e rainhas, principes e princesas não tiverão o
prazer de conhecer seus contos de fadas, tomaram-lhe suas coroas e seus tronos e colocaram mordaças e grilhões.



Mas mesmo assim mostramos que somos bravos e fortes



Tentaram nos calar por ser belos e joviais mas, pela graça divina
e por lembrança de nosso sofrimento, nossos ancestrais vivem até os dias de hoje em nossas memórias, há quem diga que alguns transformaram-se em santos ou viraram lendas do imáginário popular mas, sabemos que existimos de qualquer forma.





Tiraram as vestes de nossas mães, irmãs, mulheres e filhas,
para usarem e abusarem de seus corpos como mero objetos sem valor.





criticaram , perseguiram , aniquilaram com nossas alegrias, nossas festas, nossas danças.


Deturparam nossas danças,marginalizaram nosso lazer como lutas de morte.



Nossa fé , nosso credo, nossa religião foi perseguida e continua até os dias de hoje, pagamos com a própria vida por acreditar em
algo superior, divino e puro que pudesse nos confortar em momentos de tristeza e dor.



Agridem nossos deuses, nossos orishás, nossa energia
chamando-as de demônios, encostos, espiritos sem luz,


Nos culpam e menosprezam por cultuar a natureza.




Oferecemos o que existe de mais saboroso em nossa
culinária para nosso orixás, fruto de nosso sacrificio e eles
denominam como ato de magia negra, feitiçaria.





Saboreiam e degustam nossa comida


Mas, esquecem que foram feitas e preparadas com os restos
que nos ofereceram e que não tinham lugar em sua mesa.



Como a feijoada e o mocotó feitos com miúdos e víceras do boi e do porco.




Até nosso irmãos que viraram santos. muitas das vezes não tem muito crédito como os santos dos brancos.





comemorar o quê?


Festejar o quê?



Que abolição é essa? que liberdade é essa?

Por isso choro meu filho, por isso não vejo e não tenho alegria.


Márcio Arthur.
13 de maio de 2011