quinta-feira, 14 de junho de 2012
"Ebós Prontos" crescem em Salvador
Babalorixás criticam. Segundo eles, padronização seria uma heresia04.06.12
Bahia - A força dos Cultos Afro-Brasileiros na Bahia levou à profissionalização do mercado de produtos religiosos, que oferece facilidades como entrega em domicílio e venda por cartões de crédito. A prática é criticada pelos líderes do Candomblé, que criticam o mau uso dos produtos prontos - segundo eles, cada pessoa precisa de um ritual específico. Assim, a padronização seria uma heresia.
Em São Joaquim, a maior feira livre de Salvador, é possível encontrar lojas que aceitam todos os cartões, fazem entregas - na casa do cliente ou diretamente no terreiro - mediante pagamento de taxas de R$ 5 a R$ 10 e contam com tendas exclusivas para embalagem dos produtos.
Algumas lojas chegam a ter mais de mil itens diferentes à venda, entre folhas, defumadores, velas, charutos, cachaça, extratos de ervas, patuás, frangos e pombos. Terceira cidade mais populosa do País, com mais de 3 milhões de habitantes, Salvador é também a capital brasileira com o maior contingente negro entre a população. Mais de 70% dos moradores são afrodescendentes, o que se expressa na forte herança das Religiões de Matriz Africana. São 1.405 terreiros de Candomblé na cidade, dos quais 1.165 foram cadastrados em 2007.
Lideranças do Candomblé dizem ver com naturalidade o avanço nas modalidades de comércio religioso. Censuram, contudo, comerciantes que fazem às vezes de Pais e Mães de Santo, indicando os chamados ebós sem passar pelos terreiros. Segundo os líderes religiosos, os ebós são os rituais para correção de problemas na vida dos seguidores, seja no amor, saúde ou trabalho.
“ É uma heresia a pessoa chegar em uma loja e receber o ebó pronto. A essência é o preparo”. Pela tradição do Candomblé, contudo, estes ebós devem ser orientados pelos Sacerdotes (Iyalorixás e Babalorixás), que apontam inclusive o local para deposição das oferendas. Comerciantes dizem que muitas vezes os pedidos de orientação vêm dos próprios clientes. “As pessoas perguntam: o que tem para atrair o amor? Mas na essência quem fala a coisa certa é o Pai-de-Santo”, diz Pedro Rosa, na feira de São Joaquim desde 2007.
Há cerca de alguns meses, um jornal local divulgou que uma tenda da feira vendia trabalhos prontos, em incentivo à linha “faça você mesmo” condenada por Iyalorixás e Babalorixás. A informação causou mal-estar entre lideranças religiosas que frequentam o espaço, notícia que logo se espalhou pela feira. A reportagem não encontrou no local estabelecimentos que admitissem vender o ebó pronto.
Talvez escaldados pela má repercussão do episódio no candomblé de Salvador, outros comerciantes se mostram ainda mais rígidos: dizem vender seus produtos apenas com “receita”, a indicação dos itens trazida do terreiro. “A gente só vende se tem escrito na nota”, diz José Edmílson, gerente de uma loja na feira e há 25 anos, no ramo.
Fonte: Último Segundo
Babalorixás criticam. Segundo eles, padronização seria uma heresia04.06.12
Bahia - A força dos Cultos Afro-Brasileiros na Bahia levou à profissionalização do mercado de produtos religiosos, que oferece facilidades como entrega em domicílio e venda por cartões de crédito. A prática é criticada pelos líderes do Candomblé, que criticam o mau uso dos produtos prontos - segundo eles, cada pessoa precisa de um ritual específico. Assim, a padronização seria uma heresia.
Em São Joaquim, a maior feira livre de Salvador, é possível encontrar lojas que aceitam todos os cartões, fazem entregas - na casa do cliente ou diretamente no terreiro - mediante pagamento de taxas de R$ 5 a R$ 10 e contam com tendas exclusivas para embalagem dos produtos.
Algumas lojas chegam a ter mais de mil itens diferentes à venda, entre folhas, defumadores, velas, charutos, cachaça, extratos de ervas, patuás, frangos e pombos. Terceira cidade mais populosa do País, com mais de 3 milhões de habitantes, Salvador é também a capital brasileira com o maior contingente negro entre a população. Mais de 70% dos moradores são afrodescendentes, o que se expressa na forte herança das Religiões de Matriz Africana. São 1.405 terreiros de Candomblé na cidade, dos quais 1.165 foram cadastrados em 2007.
Lideranças do Candomblé dizem ver com naturalidade o avanço nas modalidades de comércio religioso. Censuram, contudo, comerciantes que fazem às vezes de Pais e Mães de Santo, indicando os chamados ebós sem passar pelos terreiros. Segundo os líderes religiosos, os ebós são os rituais para correção de problemas na vida dos seguidores, seja no amor, saúde ou trabalho.
“ É uma heresia a pessoa chegar em uma loja e receber o ebó pronto. A essência é o preparo”. Pela tradição do Candomblé, contudo, estes ebós devem ser orientados pelos Sacerdotes (Iyalorixás e Babalorixás), que apontam inclusive o local para deposição das oferendas. Comerciantes dizem que muitas vezes os pedidos de orientação vêm dos próprios clientes. “As pessoas perguntam: o que tem para atrair o amor? Mas na essência quem fala a coisa certa é o Pai-de-Santo”, diz Pedro Rosa, na feira de São Joaquim desde 2007.
Há cerca de alguns meses, um jornal local divulgou que uma tenda da feira vendia trabalhos prontos, em incentivo à linha “faça você mesmo” condenada por Iyalorixás e Babalorixás. A informação causou mal-estar entre lideranças religiosas que frequentam o espaço, notícia que logo se espalhou pela feira. A reportagem não encontrou no local estabelecimentos que admitissem vender o ebó pronto.
Talvez escaldados pela má repercussão do episódio no candomblé de Salvador, outros comerciantes se mostram ainda mais rígidos: dizem vender seus produtos apenas com “receita”, a indicação dos itens trazida do terreiro. “A gente só vende se tem escrito na nota”, diz José Edmílson, gerente de uma loja na feira e há 25 anos, no ramo.
Fonte: Último Segundo