Benzedeiras de duas cidades paranaenses têm suas atividades reconhecidas por leis municipais pioneiras no Brasil
Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
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Desde a infância, a benzedeira Marta Drabeski se sentia especial
Aos 75 anos, Eva Pinto Rebello não se intimida em limpar a casa, cortar lenha, cuidar da horta de ervas medicinais e ainda atender aos doentes que a procuram. No pequeno altar do quarto de casa, ela acende a vela, pega o rosário e um galho de arruda e começa as orações. O toque de suas mãos enrugadas já ajudou centenas de adultos e crianças nos últimos dez anos, quando começou a atividade de benzedeira.
Assim como dona Evinha, como é chamada, existem 294 benzedeiras já identificadas no interior do Paraná. Vêm das cidades de Rebouças e São João do Triunfo, ambas no Centro-Sul do estado, as primeiras leis municipais de que se tem registro no Brasil para o reconhecimento da atividade das benzedeiras. Na região também foi criado o Movimento Aprendizes da Sabedoria (Masa). “O movimento serviu como uma ferramenta para a articulação das benzedeiras, que não se comunicavam entre si e se sentiam acuadas pelo preconceito contra a atividade”, comenta Taísa Lewitzki, uma das coordenadoras.
A partir do mapeamento realizado pelo grupo foram identificadas 133 benzedeiras em Rebouças e 161 em São João do Triunfo. Em março de 2009, o estudo fundamentou a elaboração de uma lei na Câmara Municipal de Rebouças para o reconhecimento da atividade. Em fevereiro de 2012, o mesmo procedimento foi adotado em São João do Triunfo.
Taísa lembra que as leis municipais são inéditas no Brasil. “Existem leis semelhantes que reconhecem a atividade das parteiras, mas, nesses moldes das leis das benzedeiras, o trabalho é inédito”, acrescenta. Na prática, as leis permitem que as benzedeiras, rezadeiras, curandeiras e costureiras de rendiduras (dores musculares) tenham acesso e manipulem ervas medicinais. Elas também podem contribuir com políticas de saúde pública.
No quintal da casa de dona Evinha existem, por exemplo, 16 tipos de ervas medicinais. “Eu dou um ramo para a pessoa que precisa e ensino como fazer o remédio”, diz. Ela aprendeu o ofício com a mãe e há dez anos pratica o benzimento.
Especial
Há oito anos na atividade, a curandeira Alice Teixeira descobriu o dom quando impôs as mãos sobre o peito da filha de 2 anos que sofria de desmaios. “Um clarão entrou na janela do meu quarto e eu fui chamada a curar as pessoas em forma de retribuição pela saúde da minha filha”, completa. Ela afirma já ter curado pessoas com feridas graves e até recuperado quem estava em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Já Marta Drabeski, que está no ramo há 24 anos e é vereadora em São João do Triunfo, diz que desde a infância se sentia especial. “Mas eu tinha medo da minha mãe, que era luterana e não acreditava nas minhas visões.” Ela afirma ter visto aos 11 anos Nossa Senhora das Graças aos pés de sua cama, enquanto passava uns dias na casa da irmã mais velha. “A partir daí eu soube que tinha que curar as pessoas que precisavam.”
Voluntariado
A atividade é voluntária, mas a ajuda com alimento ou dinheiro não é negada por parte das curandeiras. “Quem quer e pode deixa um quilo de alimento”, comenta Alice, que vive de carpir quintal e colher maçãs. Dona Evinha, que é pensionista, também não cobra nada pelo serviço, mas aceita de bom grado os presentes que recebe. Ela mostra o velho guarda-roupas de duas portas cheio de fronhas e panos de pratos bordados, doados pelos pacientes e que ainda nem foram usados.