Município de Chuí tem maior número de sem religião do país
DE PORTO ALEGRE
Resultados do Censo 2010 divulgados em junho mostram que 54% da população da localidade declarou não ter religião. A média nacional é de 8%.
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As razões para esse fenômeno intrigam pesquisadores. A principal hipótese é a influência de uruguaios que moram na cidade. No país vizinho, 17% dos habitantes são ateus ou agnósticos.
O município gaúcho, de 6.000 moradores, é separado apenas por uma rua da uruguaia Chuy. Também tem uma forte presença de famílias de origem árabe, que administram casas de comércio da fronteira. No Censo de 2000, o índice de não religiosos lá era de 38,5%.
O padre Gil Raul Pereira, 46, que trabalhou na cidade nos anos 1990, afirma que a tendência já era conhecida pela igreja.
"Era bastante difícil. A comunidade [católica] no Chuí sempre foi de 20 ou 30 pessoas, no máximo", diz.
Para o pastor Nelson Martins, da Assembleia de Deus, a quantidade de estrangeiros dificulta a pregação.
"Várias igrejas já tentaram se estabelecer ali para pregar o evangelho e saíram. Não sei bem como explicar esse mistério." Ele trabalhou na localidade na década passada.
URUGUAI
O funcionário da prefeitura Fadel Ali, 42, afirma que é nítida a diferença de cultura entre brasileiros e uruguaios, "descrentes". "Eles não são apegados à religião. Para mim explica esse número", diz ele, que é espírita.
Outras cidades gaúchas grudadas a municípios uruguaios também têm populações "sem religião" maiores do que a média nacional. Na maior delas, Santana do Livramento, de 82 mil habitantes, o índice é de 16%.
O sociólogo Ricardo Mariano, da PUC do Rio Grande do Sul, diz que o Uruguai é "disparado o país mais secularizado" da região. "Comparado com a América Latina, destoa completamente. Pode ter um impacto ali, dependendo da convivência."