Polícia investiga expulsão de menino negro de restaurante em SP
RAPHAEL SASSAKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Polícia Civil instaurou nesta tarde inquérito para apurar crime de preconceito racial, além de constrangimento ilegal, contra um menino etíope, de 6 anos --filho adotivo de um casal de espanhóis --, que foi expulso de um restaurante na zona sul de São Paulo após ser visto no local sem a presença de seus pais.
O caso aconteceu no almoço do dia 30, antevéspera de Réveillon. Segundo depoimento de familiares da criança à polícia, ela teria sido colocada para fora por um dos funcionários do restaurante italiano Nonno Paolo, no bairro do Paraíso.
A mãe do menino, a técnica de administração de uma universidade de Barcelona, Cristina Costales, 42, disse que seu filho foi encontrado na calçada da rua, chorando. À ela, a criança teria dito que um funcionário o botou para fora, quando o casal foi se servir.
"Penso que, pelas circunstâncias, das características da criança, é difícil interpretar que não tenha havido um dos crimes previsto na lei 7716 (lei do crime racial)", disse o delegado titular do 36ºDP (Paraíso), Marcio de Castro Nilsson.
O inquérito servirá para apurar se o artigo 8 da lei foi desrespeitado. O item diz ser crime "impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público". A pena é de um a três anos de reclusão.
A polícia ainda busca identificar o funcionário que teria retirado a criança do restaurante.
"FUI EU"
Aurora Costales Junqueira, 77, tia-avó da criança, disse que foi ao restaurante depois que sua sobrinha, Cristina, chegou na casa dela, que fica perto do restaurante, e contou o que aconteceu.
Aurora voltou ao Nonno Paolo e questionou funcionários sobre o episódio. Segundo ela, todos negaram que havia ocorrido algo. "Eu disse que não sairia dali enquanto não houvesse uma explicação. Aí veio um senhor muito prepotente e disse: 'fui eu (quem retirou a criança)'", contou.
Segundo ela, o funcionário disse ter perguntado à criança o que ela queria, mas ela não respondeu nada. O menino não fala português. "Aí ele botou o menino pra fora. Pelo que a criança me disse, ele a pegou pelo braço. Ele (o garoto) estava assustadíssimo", disse.
Segundo o advogado do restaurante, José Eduardo Cruz, não houve crime de racismo. Segundo ele, o funcionário não retirou a criança do estabelecimento. "Ele disse que perguntou ao menino quem eram o pai e a mãe dele. O garoto não respondeu e saiu sozinho para o lado de fora", disse Cruz.
Ele afirmou que o funcionário vai se apresentar à polícia assim que for intimado. "Ele (o funcionário) está chocado com a repercussão em torno de um crime que não aconteceu."