domingo, 22 de agosto de 2010

O CENSO 2010 E NÓS AFRO-BRASILEIROS

O CENSO 2010 E NÓS AFRO-BRASILEIROS

A insatisfação do povo de santo é crescente devido a metodologia adotada pelo IBGE para o Censo de 2010, isto por que, com a criação de dois tipos de formulários, um denominado de básico com cerca de trinta perguntas e outro denominado de amostra, com cerca de setenta perguntas, estando incluídas neste último, as perguntas pertinentes a religião, já tem gerado grandes insatisfações por parte daqueles que até agora receberam a visita do recenseador, por que, no formulário básico está sendo aplicado a noventa por cento dos domicílios brasileiros, e aos demais os dez por cento restantes. Isto implica dizer que esta metodologia adotada pelo IBGE vai continuar repetindo uma injustiça em relação aqueles que não adotam a religião católica e a evangélica, pois no nosso caso, candomblecistas e umbandistas, com esses dez por cento, que em um universo de quase 200 (duzentos) milhões de habitantes no Brasil, chegaremos, sendo o mais otimista possível há pelo menos oito ou dez por cento, que está muito aquém da realidade no que diz respeito ao real número de brasileiros que professam a religião afro-brasileira.
Os orientadores do site do IBGE nos informam que estes dois formulários foram criados, devido a dificuldades na demora da coleta das informações, se aplicado o formulário da amostra que tem cerca de setenta perguntas, levariam assim, um tempo inestimável, e sairia muito caro aos cofres da União, em assim sendo, criaram o modelo básico bem mais simples, e que se preocupa em repassar ao recenseado, perguntas mais diretamente ligadas aos fatores necessários que importam ao governo na aplicação de políticas públicas, tais como, renda, saúde pública, moradia, saneamento básico, educação, migração e emigração, e outros itens.
Até certo ponto acredito que a postura adota pelo IBGE tem pertinência, visto que por força de dispositivo constitucional, o fator religião, por sermos um estado laico (sem uma religião predominante), o governo procura passar ao largo de discussões dessa natureza, evitando assim se imiscuir em questões religiosas que é um campo perigoso e minado.
Enquanto que a nosso desfavor persiste a intenção de outras religiões em manter a sua hegemonia, como no caso d igreja católica, que por muitos séculos foi Estado, e que embora não mais tenha predominância no Brasil, ainda é maioria, em segundo lugar vêm as religiões pentecostais, e nós umbandistas e candomblecistas junto com outros segmentos religiosos, continuamos figurando oficialmente como grupos de crescimentos estáticos, o que não condiz com a realidade. Pois sabemos que a religião afro dos dias atuais cresceu muito e tende a crescer muito mais, face a movimentos de respeito ao nosso culto, mormente no que diz respeito a intolerância religiosa, que ultrapassam fronteiras de estados.
Hoje temos maiores possibilidades de acesso aos mais variados tipos de Midias, nas quais podemos levar a nossa imagem, a imagem dos nossos deuses e encantados, suas histórias sempre ligadas à construção do Brasil, e a formação da sua população, que é mestiça e cabocla. É evidente que esta situação que ora vivenciamos por conta deste censo, que não vai mostrar a nossa real quantidade, é a espoleta que deve detonar um movimento nacional contra a desagregação tão comum entre nós, pois a partir do momento que todos nós candomblecistas e umbandistas, quimbandistas, e outros também agasalhados sob o manto da religião afro, passarmos a ler na mesma cartilha, na qual a lição primordial é a agregação, poderemos a partir de então através de um movimento nacional, fazermos frente ao governo, para que adote novas fórmulas capazes de no próximo Censo, verificar o real tamanho dos adeptos da religião afro. Mas tudo isso depende de todos nós, no sentido de desenvolvermos a nossa capacidade de agregação, deixando de lado as divergências inerentes a Nações e Cultos ameríndios.
João Batista de Ayrá/Advogado/Jornalista/Babalorixá