quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ajê Xalungá cega os homens e também perde a visão


Ajê Xalungá
Ajê Xalungá cega os homens e também perde a visão

Ajê Xalungá é a irmã mais nova de Iemanjá. Ambas são as filhas prediletas de Olocum. Quando a imensidão das águas foi criada, Olocum dividiu os mares com suas filhas e cada uma reinou numa diferente região do oceano. Ajê Xalungá ganhou o poder sobre as marés. Eram nove as filhas de Olocum e por isso se diz que são nove as Iemanjá. Dizem que Iemanjá é a mais velha Olocum e que Ajê Xalungá é a Olocum caçula, mas de fato ambas são irmãs apenas. Olocum deu às suas filhas os mares e também todo o segredo que há neles. Mas nenhuma delas conhece os segredos de todos, que são os segredos de Olocum. Ajê Xalungá era, porém, menina muito curiosa e sempre ia bisbilhotar em todos os mares. Quando Olocum saía pelo mundo, Ajê Xalungá fazia subir a maré e ia atrás cavalgando sobre as ondas. Ia disfarçada sobre as ondas, na forma de espuma borbulhante que brilhava ao sol tão intensamente. Tão intenso e atrativo era tal brilho, que às vezes cegava as pessoas que olhavam. Um dia Olocum disse à sua filha caçula: “O que dás para os outros, tu também terás. Serás vista pelos outros como te mostrares. Este será o teu segredo, mas saiba que qualquer segredo é sempre perigoso”. Na próxima vez que Ajê Xalungá saiu nas ondas, acompanhando, disfarçada, as andanças de Olocum, seu brilho era ainda bem maior, porque maior era seu orgulho, agora detentora do segredo. Muitos homens e mulheres olhavam admirados o brilho intenso das ondas do mar e cada um com o brilho, ficou cego. Sim, o seu poder cegava os homens e as mulheres. Mas quando Ajê Xalungá também perdeu a visão, ela entendeu o sentido do segredo. Iemanjá está sempre com ela, quando sai para passear nas ondas. Ela é a irmã mais nova de Iemanjá.



Ajê Xalungá faz seu amado próspero e rico

Ajê Xalungá vive no fundo do oceano, onde se senta num trono de coral, num belo sítio no profundo chão do mar. Toda a riqueza da terra não suplanta a riqueza do mar, pois tudo o que há na terra é lavado para o mar e o que é próspero do mar na terra não existe. Ali está Ajê Xalungá entre algas e cardumes e outras maravilhas do lugar. Às vezes sai sobre as ondas, seguindo Olocum em seus passeios. Quando as ondas avançam muito praia dentro, ela aproveita e desce à terra para distrair-se. Foi assim que certa vez ela conheceu um homem do mercado, um comerciante que vendia azeite-de-dendê, e por ele logo se apaixonou. O comerciante também desejou Xalungá e pediu para com ela se casar. Não podendo viver fora da água, ela levou seu amado para o fundo do mar e para sua tristeza ele se afogou, morreu. Tempos depois, noutra onda, voltou Ajê Xalungá à terra firme e foi mais uma visitar o mercado do lugar. De novo conheceu um mercador e ambos se apaixonaram. Não podendo dar-lhe amor, para não matá-lo, antes de retornar à seu trono submarino, ela o cobriu de riquezas, fazendo dele o homem mais importante do mercado. Há sempre prosperidade quando Ajê Xalungá vem visitar os homens que trabalham nos mercados. O mar é o mais rico tesouro existente e tudo isso pertence a Ajê Xalungá. Ajê Xalungá é a dona da riqueza. É ela quem pode dar prosperidade ao homem. E, do seu trono de coral na areia, Ajê Xalungá ajuda quem precisa e quem lhe oferece presentes no mar.



Fonte: Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi