terça-feira, 21 de setembro de 2010

Hitler foi católico e nunca renunciou ao batismo, diz Dawkins



Hitler foi católico e nunca renunciou ao batismo, diz Dawkins
Segue transcrição de parte da resposta do britânico e ateu Richard Dawkins (foto) à conexão feita por Bento 16 no Reino Unido entre o “extremismo ateu” e a tirania dos nazistas que pretendia "erradicar Deus da sociedade".



No começo, fiquei tão revoltado quanto todo mundo por causa das primeiras palavras que o papa disse assim que pousou em Edimburgo culpando os ateus pelas atrocidades de Hitler e outras do século 20.

Mas então fiquei contente porque, para mim, isso de certa maneira mostra o quanto o papa está incomodado com a gente e que ele foi forçado ao expediente ignominioso de nos atacar para desviar a atenção dos verdadeiros crimes cometidos em nome da Igreja Católica.

Posso imaginar as discussões nos corredores do Vaticano: “Como vamos distraí-los da sodomia com os garotos?”. A resposta: “Por que não atacamos os secularistas, os ateus, pelo hitlerismo?”.

Adolfo Hitler foi um católico romano. Foi batizado e nunca renunciou ao batismo.

A informação de que existem 5 milhões de britânicos católicos foi retirada presumivelmente dos registros de batismo. Mas eu não acredito em uma só palavra disso. Não acredito que haja 5 ou 6 milhões de britânicos católicos. Pode haver 5 ou 6 milhões de batizados, mas se a igreja quer alegar que esses são católicos, então terá de reivindicar Hitler como um católico.

No mínimo, Hitler acreditava em uma providência personificada. Ele falou disso várias vezes.

E era presumivelmente a mesma providência que foi invocada pelo cardeal arcebispo de Munique em 1939, quando Hitler escapou da morte, e o cardeal proferiu um Te Deum [ofício litúrgico solene] especial na Catedral de Munique: “Para agradecer a Divina Providência, em nome da arquidiocese, pela felicidade de o Führer ter escapado [de um atentado]”.

Vou ler um discurso feito em Munique, coração da Bavária católica, em 1922, e deixar para que vocês adivinhem de que é.

“Meu sentimento como cristão aponta-me para o meu Senhor e Salvador como um lutador. Aponta-me para o homem que, uma vez na solidão, cercado por poucos seguidores, reconheceu esses judeus por quem eles eram e clamou para que se lutasse contra eles e que – verdade de Deus – foi maior não como sofredor, mas como lutador. No meu amor sem limites como cristão e como homem, eu leio a passagem que nos conta como o Senhor finalmente se levantou em seu poder e tomou do chicote para expulsar do Templo a raça de víboras e vendilhões. Como foi maravilhosa a sua luta contra o veneno judeu. Hoje, depois de dois mil anos, com a mais profunda emoção, eu reconheço mais do que nunca o fato de que foi por isso que Ele teve de derramar o seu sangue na cruz.”

Esse é apenas um dos muitos discursos e passagens do Mein Kampf, onde Hitler invocou o seu cristianismo. Não é de se estranhar que Hitler tenha recebido apoio caloroso de dentro da hierarquia católica da Alemanha.

Mesmo que Hitler tivesse sido ateu – e Stalin mais provavelmente era –, como Ratzinger ousa sugerir que o ateísmo tem qualquer conexão com os seus atos terríveis?

Não mais que a descrença de Hitler e Stalin em duendes ou unicórnios. Não mais do que o fato de ostentarem um bigode – assim como Franco e Saddam Hussein. Não há nenhum caminho lógico do ateísmo para a maldade.

A menos que para quem esteja imerso na repulsiva obscenidade que é o cerne da teologia católica. Eu me refiro à doutrina do pecado original.

Essas pessoas acreditam que todo bebê ‘nasce em pecado’ e ensinam isso a criancinhas, ao mesmo tempo em que lhes falam da terrível falsidade do inferno. Esse seria o pecado de Adão, o mesmo Adão que agora eles mesmos admitem nunca ter existido.

Pecado original significa que nascemos maus, corruptos, condenados, a menos que acreditemos no deus deles ou a menos que caíamos no conto do castigo do inferno.

Isso, senhoras e senhores, é a nojenta teoria que os leva a presumir ter sido a irreligiosidade que tornou Hitler e Stalin nos monstros que foram. Somos todos monstros, a menos que sejamos redimidos por Jesus. Que teoria vil, depravada e desumana para ter como base a vida.

Joseph Ratzinger é um inimigo da humanidade.

Ele é inimigo das crianças cujos corpos permitiu que fossem estuprados e cujas mentes ele encorajou que fossem infectadas pela culpa.

Fica evidente que a igreja se preocupa menos em salvar os corpos das crianças e salvar a alma dos padres estupradores do inferno: a maior preocupação é salvar a reputação permanente da própria igreja.

Ele é inimigo dos homossexuais, conferindo a eles o tipo de intolerância que a sua igreja reservava aos judeus até 1962.

Ele é inimigo das mulheres, barrando-as ao sacerdócio, como se um pênis fosse um atributo essencial para exercer os deveres pastorais.

Ele é inimigo da verdade, promovendo a mentira deslavada sobre os preservativos de que não protegem contra a Aids, especialmente na África.

Ele é inimigo das pessoas mais pobres deste planeta, condenando-as a ter famílias numerosas que não conseguem se alimentar e assim mantendo-os na escravidão da eterna pobreza. Uma pobreza que combina mal com a obscena riqueza do Vaticano.

Ele é inimigo da ciência, obstruindo a pesquisa vital com células tronco [embrionária], com base não na moralidade, mas na superstição pré-científica.

Finalmente, talvez a minha maior preocupação é que ele é inimigo da educação. Sem considerar o dano psicológico permanente causado pela culpa e pelo medo, a educação católica se tornou em algo abjeto no mundo inteiro.

Ele e sua igreja fomentam a doutrina perniciosa de que a evidência é uma base menos confiável para a crença do que a fé, tradição, revelação e autoridade – a autoridade dele.

Tradução da LiHS (Liga Humanista Secular do Brasil
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