sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Val Baiano: 'Não gosto de macumba. Se fosse do bem, seria boacumba'
Gávea (Foto: Maurício val / Vipcomm)09/09/2010
Val Baiano: 'Não gosto de macumba. Se fosse do bem, seria boacumba'
Atacante ainda não fez gol em oito jogos pelo Flamengo e sugere banho de água benta nas traves da Gávea para poder 'estrear'
Val Baiano durante o treinamento do Flamengo na
Gávea: Pressão, deboche, descrença. Em quase três meses no Flamengo, Val Baiano foi escolhido como personagem símbolo da trágica fase do ataque. Mas, apesar do massacre, não se pode dizer que o atacante peca pela omissão. Ou pela falta de bom humor.
Enquanto diversos jogadores renomados e experientes se escondem, o atacante deu entrevista coletiva nesta quinta-feira. Admitiu que a fase é ruim, concordou com boa parte das críticas, mas também lamentou uma certa dose de perseguição.
- Não vou dizer que toda crítica é injusta porque realmente não estou fazendo gol. Mas algumas coisas, sim. Li uma manchete outro dia: mesmo sem Val Baiano, Flamengo fica no 0 a 0. Lógico que isso chateia. Até sem jogar pegam no meu pé e aí penso se não é algo pessoal. O Flamengo é um time, não o Val Baiano – disse o camisa 9, que ainda não fez gol em oito jogos no Rubro-Negro.
Val Baiano se apega à família e à religião para escapar do momento ruim. Ele ficou fora dos últimos dois jogos e mesmo assim o Flamengo continuou inofensivo. Neste sábado, contra o Vitória, ele disputa com Diego Maurício a vaga de Diogo, que está suspenso.
- Falta um pouco de sorte. Tem fase que o atacante chuta em cima da linha e a bola vai para fora. Em outras, chuta errado, a bola bate no goleiro e entra. Confio em Deus. Acho importante rezar e orar. Não gosto de macumba. Se fosse do bem, seria boacumba. Quem sabe jogar água benta nas traves da Gávea... – disse, com dose de bom humor.
O último gol de um ataque do Flamengo foi no dia 21 de julho, contra o Avaí. Desde então, foram dez jogos e mais de mil minutos de jejum.
A próxima partida será no sábado contra o Vitória, em Volta Redonda. O GLOBOESPORTE.COM acompanha em Tempo Real.
Por Eduardo Peixoto
Rio de Janeiro
comentário:
Esta é mais uma das grandes "pérolas" de expressões cunhadas em preconceito religioso e deboche para com a religião afro-brasileira e seus adeptos. Este jovem jogador com certeza deve ter se esquecido que faz ele, parte da raça negra que foi trazida para este país na condição análoga a de escravo, e que aqui chegando foi explorado, vilipendiado, estuprado, e manietado nas suas convicções religiosas, de tal monta, que para poder cultuar os seus deuses africanos, teve que mascará-los atrás dos deuses católicos do branco colonizador, dando azo a existência do que hoje se convencionou chamar de sincretismo. Tendo sido o negro e seus descendentes mulatos, cafusos, mamelucos, pardos e outros os responsáveis pela construção desse país. Sendo muito certo lembrar ainda a este jovem que mesmo após a abolição da escravidão no Brasil, o negro ainda continuou sendo escravo do branco colonizador, primeiro por que, após a promulgação da Lei Áurea de 1888, os negros libertos se dirigiram aos grandes centros urbanos, como por exemplo, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e outras capitais brasileiras, e lá chegando, qual não foi a sua surpresa ? Não haviam empregos, não haviam moradias, não havia como esses negros libertos viverem nas cidades grandes, passaram então a sobreviver da chamada economia informal, camelôs, lavadeiras, passadeiras, domésticas, entre outras atividades menos honrosas. Surgindo a partir daí as "cabeças de porco", a primeiras favelas, os primeiros cortiços, as primeiras zonas conhecidas como do "baixo meretrício". Enfim, passou a viver o negro liberto um novo tipo de escravidão, e que ainda perdura até os dias atuais, ou seja a discriminação por conta da situação econômica que divide atualmente classes, não só de negros, mas de brancos também.
Esquecendo-se também, este jovem guerreiro jogador, que a própria condição dele como tal (jogador), surge em um universo da falta de oportunidades ao jovem negro e muitas das vezes favelado, como uma das poucas portas capazes de oferecer a estes jovens uma ascensão meteórica e rica, sem a necessidade de estudos, bastando a prática e a técnica deste grande esporte que é a paixão do Brasil e do mundo,chamado futebol. Hoje é muito fácil,debochar e menosprezar da raça e da religião, porém, se esquecendo, que a religião afro-brasileira, o Candomblé e a Umbanda, é a unica que foi e é pautada na RESISTÊNCIA, e que, é por isso que ainda persiste na luta, apesar de todo tipo de oposição, de menosprezo, de deboche, e de críticas, até mesmo, de quem por uma questão de "raça", deveria, se não cultuar a religião dos seus antepassados, deveria pelo menos respeitá-la.
Mas sobreviveremos a mais este preconceito, e desejamos a você guerreiro jogador, que o seu deus, que é o mesmo nosso, bem como os nossos Orixás e encantados brasileiros, te protejam, e te ajudem a permanecer no auge da fama ainda por muito tempo, e que um dia, não precises, de um negro velho, de uma preta velha, ou de um dos seus descentes, para te dar um conselho ou fazer algum tipo de encantamento para abrir os teus caminhos. Axé! e Saravá!
João Batista de Ayrá, babalorixá/advogado/jornalista.
Val Baiano: 'Não gosto de macumba. Se fosse do bem, seria boacumba'
Atacante ainda não fez gol em oito jogos pelo Flamengo e sugere banho de água benta nas traves da Gávea para poder 'estrear'
Val Baiano durante o treinamento do Flamengo na
Gávea: Pressão, deboche, descrença. Em quase três meses no Flamengo, Val Baiano foi escolhido como personagem símbolo da trágica fase do ataque. Mas, apesar do massacre, não se pode dizer que o atacante peca pela omissão. Ou pela falta de bom humor.
Enquanto diversos jogadores renomados e experientes se escondem, o atacante deu entrevista coletiva nesta quinta-feira. Admitiu que a fase é ruim, concordou com boa parte das críticas, mas também lamentou uma certa dose de perseguição.
- Não vou dizer que toda crítica é injusta porque realmente não estou fazendo gol. Mas algumas coisas, sim. Li uma manchete outro dia: mesmo sem Val Baiano, Flamengo fica no 0 a 0. Lógico que isso chateia. Até sem jogar pegam no meu pé e aí penso se não é algo pessoal. O Flamengo é um time, não o Val Baiano – disse o camisa 9, que ainda não fez gol em oito jogos no Rubro-Negro.
Val Baiano se apega à família e à religião para escapar do momento ruim. Ele ficou fora dos últimos dois jogos e mesmo assim o Flamengo continuou inofensivo. Neste sábado, contra o Vitória, ele disputa com Diego Maurício a vaga de Diogo, que está suspenso.
- Falta um pouco de sorte. Tem fase que o atacante chuta em cima da linha e a bola vai para fora. Em outras, chuta errado, a bola bate no goleiro e entra. Confio em Deus. Acho importante rezar e orar. Não gosto de macumba. Se fosse do bem, seria boacumba. Quem sabe jogar água benta nas traves da Gávea... – disse, com dose de bom humor.
O último gol de um ataque do Flamengo foi no dia 21 de julho, contra o Avaí. Desde então, foram dez jogos e mais de mil minutos de jejum.
A próxima partida será no sábado contra o Vitória, em Volta Redonda. O GLOBOESPORTE.COM acompanha em Tempo Real.
Por Eduardo Peixoto
Rio de Janeiro
comentário:
Esta é mais uma das grandes "pérolas" de expressões cunhadas em preconceito religioso e deboche para com a religião afro-brasileira e seus adeptos. Este jovem jogador com certeza deve ter se esquecido que faz ele, parte da raça negra que foi trazida para este país na condição análoga a de escravo, e que aqui chegando foi explorado, vilipendiado, estuprado, e manietado nas suas convicções religiosas, de tal monta, que para poder cultuar os seus deuses africanos, teve que mascará-los atrás dos deuses católicos do branco colonizador, dando azo a existência do que hoje se convencionou chamar de sincretismo. Tendo sido o negro e seus descendentes mulatos, cafusos, mamelucos, pardos e outros os responsáveis pela construção desse país. Sendo muito certo lembrar ainda a este jovem que mesmo após a abolição da escravidão no Brasil, o negro ainda continuou sendo escravo do branco colonizador, primeiro por que, após a promulgação da Lei Áurea de 1888, os negros libertos se dirigiram aos grandes centros urbanos, como por exemplo, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e outras capitais brasileiras, e lá chegando, qual não foi a sua surpresa ? Não haviam empregos, não haviam moradias, não havia como esses negros libertos viverem nas cidades grandes, passaram então a sobreviver da chamada economia informal, camelôs, lavadeiras, passadeiras, domésticas, entre outras atividades menos honrosas. Surgindo a partir daí as "cabeças de porco", a primeiras favelas, os primeiros cortiços, as primeiras zonas conhecidas como do "baixo meretrício". Enfim, passou a viver o negro liberto um novo tipo de escravidão, e que ainda perdura até os dias atuais, ou seja a discriminação por conta da situação econômica que divide atualmente classes, não só de negros, mas de brancos também.
Esquecendo-se também, este jovem guerreiro jogador, que a própria condição dele como tal (jogador), surge em um universo da falta de oportunidades ao jovem negro e muitas das vezes favelado, como uma das poucas portas capazes de oferecer a estes jovens uma ascensão meteórica e rica, sem a necessidade de estudos, bastando a prática e a técnica deste grande esporte que é a paixão do Brasil e do mundo,chamado futebol. Hoje é muito fácil,debochar e menosprezar da raça e da religião, porém, se esquecendo, que a religião afro-brasileira, o Candomblé e a Umbanda, é a unica que foi e é pautada na RESISTÊNCIA, e que, é por isso que ainda persiste na luta, apesar de todo tipo de oposição, de menosprezo, de deboche, e de críticas, até mesmo, de quem por uma questão de "raça", deveria, se não cultuar a religião dos seus antepassados, deveria pelo menos respeitá-la.
Mas sobreviveremos a mais este preconceito, e desejamos a você guerreiro jogador, que o seu deus, que é o mesmo nosso, bem como os nossos Orixás e encantados brasileiros, te protejam, e te ajudem a permanecer no auge da fama ainda por muito tempo, e que um dia, não precises, de um negro velho, de uma preta velha, ou de um dos seus descentes, para te dar um conselho ou fazer algum tipo de encantamento para abrir os teus caminhos. Axé! e Saravá!
João Batista de Ayrá, babalorixá/advogado/jornalista.