terça-feira, 21 de setembro de 2010


Lendas Africanas / Professora Valeria Teixeira
Colaboração - Professora Valeria Teixeira / Etemin Aguecy (nação jêje mahin - axé kwê sejá sinin)
* Moradora de Nova Campina / Pedagoga.
* Pesquisadora das Religiões de Matrizes Africanas no Brasil.
* Eleita em 11 julho de 2009, Conselheira pelas Entidades Religiosas no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro e Promoção da Igualdade Racial e Étnica de Duque de Caxias.



Apesar da ligação estreita que o Brasil manteve por séculos com regiões da África, até pouco tempo o desejo predominante era extirpar do Brasil, toda lembrança africana. Mas, nós não vamos permitir que esse fato aconteça. Para isso, vamos recriar histórias contadas pelos nossos ancestrais, os negros africanos!

OXÓSSE É IRMÃO DE OGUN
Oxósse era irmão de Ogun e tinha pelo mesmo, um carinho muito especial. Um dia, quando Ogun voltava da guerra, encontrou Oxósse temeroso e sem reação, cercado de inimigos que já tinham destruído quase toda a sua aldeia e, que estavam prestes a atingir sua família e tomar suas terras. Ogun vinha cansado da guerra, mas ficou irado e sedento de vingança. Procurou dentro de si mais forças para continuar lutando e partiu na direção dos inimigos. Com sua espada de ferro, pelejou até o amanhecer. Quando por fim, venceu os invasores, sentou-se com o irmão e o tranqüilizou com sua proteção dizendo que, sempre que houvesse necessidade, ele iria ao seu encontro para auxiliá-lo. Ogun ensinou Oxósse a caçar, a abrir os caminhos pela floresta e matas cerradas. Oxósse aprendeu com o irmão a nobre arte da caça, sem a qual, a vida seria muito mais difícil. Ogun ensinou o irmão a defender-se por si próprio e a defender sua gente. A partir daí, Ogun sabia que poderia partir para a guerra sem se preocupar com a sua aldeia e seus familiares. Ogun fez de Oxósse o provedor. Ogun é o grande guerreiro e Oxósse é o grande caçador.

OXÓSSE GANHA DE ORUMILÁ A CIDADE DE KETU
Certo dia, Orumilá precisava de um pássaro raro para fazer um feitiço de Oxum. Ogun e Oxósse saíram em busca da ave pela mata a dentro, nada encontrando por dias seguidos. Numa manhã porém, restando-lhes apenas um dia para o feitiço, Oxósse deparou-se com a ave e percebeu que só lhe restava uma única flecha. Mirou com precisão e a atingiu. Quando voltou para a aldeia, Orumilá ficou encantado e agradecido com o feito do filho: sua determinação e coragem. Ofereceu-lhe então, a cidade de Ketu para governar até a sua morte, fazendo dele o orixá da caça e das florestas.

OXÓSSE É REI DO KETU POR OXUM
Oxósse ia para uma caçada buscar comida para sua gente quando avistou Oxum nas águas doces. Encantou-se com sua beleza, com seu deslumbramento nas águas cintilantes. Oxósse entrou no rio para alcançar o orixá e lá ficou de amores com Oxum, esquecendo-se da fome de sua tribo. Seus companheiros sentiram-se traídos e começaram a tirar flechas em Oxósse. Oxum, que já estava enamorada por ele, começou a cantar uma cantiga de encantamento para defendê-lo das mortíferas flechadas dos perseguidores, que tiveram de fugir: “A TI RÊ OKÊ ATI RE NU BALÉ BA RE IÔ” Oxum guiou Oxósse na fuga, encontrando guarida na cidade de Ketu, onde Oxum deu a Oxósse o posto de Rei, o Alaketu. Assim, Oxósse, o caçador, também foi rei de Ketu.

OXÓSSE DESOBEDECE OBATALÁ E NÃO CONSEGUE MAIS CAÇAR
Havia uma grande fome e faltava comida na Terra. Então, Obatalá enviou Oxósse para que ele aí caçasse e provesse de sustento todos os que estavam sem comida. Oxósse caçou tanto, mas, tanto, que ficou obsessivo: ele queria matar e destruir tudo o que encontrasse. Obatalá pediu-lhe que parasse de caçar, mas, Oxósse não obedeceu e continuou caçando. Um dia, encontrou uma ave branca, um pombo. Sem se importar que os animais brancos sejam de Obatalá, Oxósse matou o pombo. Obatalá voltou a pedir que ele não caçasse mais. Porém, Oxósse continuou caçando. Uma noite, Oxósse encontrou um veado e atirou nele muitas flechas. Mas, as flechas não lhe causaram nenhum dano. Oxósse aproximou-se mais e flechou a cabeça do animal. Nesse momento, o veado se iluminou. Era Obatalá disfarçado, ali, todo flechado por Oxósse. Oxósse não conseguiu caçar nunca mais, profundo foi seu desgosto.

EXU SE TORNA REI DE IJELU
Exú gritava e esbravejava, afirmando que o fogo, cuja origem desconhecia, havia consumido uma enorme fortuna, que trouxera embrulhada em seus pertences, que como muitos testemunharam, foram confiados ao dono da casa. Na verdade, ao chegar, Exú entregou ao seu hospedeiro um grande fardo, dentro do qual, segundo declaração sua, havia um grande tesouro, fato este, que foi testemunhado por enumeras pessoas do local. Rapidamente, a notícia chegou aos ouvidos do Rei que, segundo a lei do país deveria indenizar a vitima de todo o prejuízo ocasionado pelo sinistro. Ao tomar conhecimento do grande valor da indenização e ciente de não possuir meios para saldá-la, o rei encontrou, como única solução, entregar seu trono e sua coroa a Exú, com a condição de poder continuar, com toda sua família, residindo no palácio. Diante da proposta, Exú aceitou imediatamente, passando a ser
deste então o rei de Ijelu.

VODUN KEVIOSO
Quando o Vodun kevioso veio ao mundo, não passava de um pequeno covarde que só possuía um galo que cantava e um cabrito que berrava. Convencendo-se de que não poderia viver desta forma, resolveu consultar Ifá, em busca de auxílio. Seu Babalawo chamava-se Afeke e foi ele quem, consultando Ifá, encontrou Okanran Meji, que exigiu que kevioso oferecesse um ebó composto de duzentos e uma pedrinhas, um saco, uma cabra, cento e cinqüenta moedas do mesmo valor e mais quinze de valor diferente.
As pedras foram colocadas dentro de um saco e entregues a kevioso depois do sacrifício, representando o seu poder e a sua força. As moedas foram dadas ao Babalawo, em pagamento.
Na verdade depois que kevioso passou a possuir estas pedras, seus olhos tingiram-se de vermelho, passou a ser muito corajoso e as pessoas temem a sua aproximação. Quando encolerizado, enfia a mão no saco e lança suas pedras em forma de raio, destruindo quem quer que o tenha provocado. Foi assim que kevioso, o covarde, tornou-se um exemplo de coragem para todos os homens.

MAWU E IFÁ
Ifá chegou a este mundo antes de seus mensageiros Legba, Miñona e Abi, que estão sob suas ordens, ao contrário de Igbadu que esta acima dele. Criado por Mawu, Ifá desceu do céu trazendo para a terra todas as árvores, todas as plantas, todos os animais, todos os pássaros e todas as pedras.
Naquela época, existia sobre a Terra somente um protótipo de ser humano, muito pequeno, negro e muito parecido com o homem. Ao chegar ao Ayé, Ifá transmitiu todo o seu conhecimento a este estranho ser, a que, deu o nome de “Koto”.
Logo que Mawu criou os seres humanos, Koto transmitiu-lhes toda a ciência que havia recebido de Ifá: o conhecimento de todas as coisas e principalmente, o conhecimento do próprio Ifá. Koto, que sabia o nome de tudo quanto existia, ensinou aos homens, esquecendo-se, no entanto, de transmitir o nome de uma única arvore, a qual os homens chamaram de “Kotoble” e depois de Wugo. Assim, foi apenas a uma única árvore, dentre todas as coisas que existem no mundo, que os homens deram nome.

ITAN
Shangô queria ser muito poderoso e respeitado e para isto consultou Ifá. Na consulta surgiu Okanran Meji, que determinou um sacrifício, que iria garantir ao orixás, tudo que desejava. Feito o ebó, Todas as vezes que Shangô abria a boca para falar, sua voz saia possante como um trovão e inúmeras labaredas acompanhavam suas palavras.
Diante do poder de seu marido Oyá resolveu consultar o Oráculo com a finalidade de se tornar tão poderosa quanto ele. Na consulta surgiu Okanran Meji, que lhe determinou o mesmo ebó. Quando Shangô descobriu que sua mulher havia adquirido um poder igual ao seu, ficou furioso e começou a maldizer Ifá por haver proporcionado tamanho poder a uma simples mulher.
Humilhada, Oyá recorreu a Olorun para que desse um paradeiro ao impasse. Olorun determinou então que a partir daquele dia, a voz de Shangô soaria como o trovão e que provocaria incêndios onde ele bem entendesse, mas para que isto pudesse acontecer, seria necessário que Oyá, falasse primeiro, para que o fogo de suas palavras (os raios) provocassem o surgimento do som das palavras de Shangô (o trovão), assim como o fogo que elas produzem sobre a terra (os incêndios provocados pelos raios que se projetam sobre a terra).
E por este motivo até hoje, não se pode ouvir o ribombar do trovão sem que antes, um raio ilumine o céu.

ITAN
Naquele tempo, o céu e a terra estavam tão perto um do outro, como o teto do chão, sendo que a terra era habitada por homens muito pequenos, muitíssimo menores do que os de hoje existem. Céu e Terra eram então muito amigos e costumavam ir juntos a caça de animais, que sempre dividiam irmamente entre si. Sempre que Céu capturava alguma caça, oferecia uma parte à Terra, que agia da mesma maneira quando abatia qualquer animal.
Certo dia durante a caçada Terra capturou um emon. Na hora de repartir o animal, Terra falou: “Como Sou mais velha, ficarei com a parte da cabeça”. Ao que Céu retrucou: “Sabes muito bem que sou maior e portanto a parte da cabeça deste animal, cabe a mim por direito. Dá-me logo essa parte e não se fala mais nisso!”.
Como não chegassem a nenhum acordo, Céu furioso, resolveu afastar-se de Terra, indo morar muito distante de seu ex-amigo. Com o distanciamento de Céu, Terra ficou muito árida, por falta de chuva, o que provocou um total desequilíbrio no ciclo de vida. As sementes deixaram de germinar, as fêmeas deixaram de gerar filhos e desta forma, tudo estava condenado a desaparecer.
Diante do problema, os homens, dirigindo-se à Terra, recomendaram: “Para apaziguar a ira de Céu, deves caçar outro emon e enviá-lo a seu ex-amigo”.
Terra tratou então, de abater outro emon, que foi transportado pelos pássaros, à nova morada de Céu. Foi o pássaro Aklãsu, o encarregado de fazer o transporte, sob a promessa de lhe ser construída uma casa, em pagamento. Quando Aklãsu voltava de sua missão, foi apanhado a meio caminho, por uma forte chuva, que Céu enviara em agradecimento à gentileza recebida. Ao chegar a Terra, Aklãsu percebeu que a casa que lhe haviam prometido não fora sequer construída, tendo que permanecer ao desabrigo.
Diante disto, disse aborrecido: “Vocês não foram fiéis ao que me prometeram, mas não faz mal, minhas grandes asas são mais que suficientes para me protegerem da chuva!”. E por isto, até hoje, não se vê o Aklãsu se esconder da chuva por mais forte que ela seja. Pousado nos galhos das mais altas árvores, protege a cabeça com as próprias asas e pensa: “Amanhã, logo que esta chuva passar, construirei uma casa para mim!” E logo que a chuva passa, ele diz: “Para que preciso de uma casa? Não existem inúmeras casas para mim, entre todas as árvores?” E voa feliz sob os raios do Sol, agitando suas imensas asas para secá-las.

ITAN
Dizem as histórias que havia diversos príncipes que disputavam o poder. Também havia outros fidalgos oriundos de diversas cidades. Entre estes, havia Tela-okô, que era desprovido de todos os meios de subsistência.
E lá um dia, enquanto roçava, bem no lugar onde havia colocado um ebó que ele tinha feito conforme a maneira decretada, Tela-okô bateu com a enxada num forno enorme, que se abriu, causando-lhe grande espanto. Chamou os companheiros que estavam mais afastados, dizendo que tinha afundado no buraco da riqueza.
Mas, em seguida, tendo ele reconhecido ser deveras um verdadeiro tesouro da fortuna o que ele encontrara, mudou repentinamente, dizendo que o que tinha encontrado era apenas um buraco cheio de orobôs, e que estes eram tão alvos que pareciam tratar-se de moedas.
Claro que através deste caminho de odú (Ejioko Meji), entende-se que jamais devemos revelar de onde provem nossas riquezas e nem o tanto que temos, afim de evitar invejosos, perseguidores e ladrões.

ITAN
Um certo casal, apesar de se amarem muito, viviam brigando por absoluta falta de compreensão. A desarmonia superava o amor e a convivência já era insuportável, por este motivo, foram procurar o Bokono do lugar, em busca de orientação. Feita a consulta, surgiu Ejioko Meji, que determinou um sacrifício composto de um casal de eyele funfun, fitas de várias cores, orí da costa, igbi meji, etc.
Como o casal não possuísse recursos suficientes, foi preciso que a mulher preparasse muito mingau de akasa, que o marido ia vender no mercado para obter dinheiro para o material do ebó. Oferecido o ebó, o que só foi possível pelo trabalho conjunto do casal, voltou a reinar a paz e a compreensão entre os dois, que continuaram a trabalhar da forma que fizeram para obter o dinheiro do sacrifício.

ITAN
Havia um homem que, por sua enorme sabedoria, era muito procurado por seus vizinhos e demais moradores da cidade. Certo dia, o sábio adoeceu e sua morte era aguardada a qualquer momento. Usando de seus conhecimentos, o ancião resolveu enganar a morte e para isto, preparou um ebó com o igbi, dois pombos, um preá, mel e efun, colocando tudo num buraco que cavou no chão. Quando a morte aproximou-se sob a forma de um grande pássaro, o homem correu até o local onde havia depositado o ebó e pegando o igbi, colocou-o sobre sua cabeça, que antes havia untado com bastante mel.
O pássaro Ikú, pensando tratar-se do ori do sábio, cravou as garras afiadas no igbi, carregando-o para o mundo dos mortos. Desta forma, o velho, com seu saber, conseguiu ludibriar a morte.

ITAN
Enure era o nome do homem que, apesar de muito trabalhador e esforçado, não conseguia progredir na vida, por ser perseguido permanentemente por dois inimigos muito poderosos, chamados Perseguição e Inveja. Orientado por amigos que testemunhavam sua penúria, Enure foi consultar o Oluwo, surgindo Eta Ogunda, que determinou um sacrifício para Exú. Feito o ebó, Enure conseguiu livrar-se de Perseguição e Inveja, que pela ação de Exú, esqueceram seu endereço, passando, a partir de então, a ser visitado constantemente, por Progresso e Riqueza.

ITAN
Naquele tempo, mandaram todas as árvores fazerem oferendas a Olorun (deus) mas nenhuma deu importância ao conselho. Somente a cajazeira fez a oferenda. Daí por diante, todas as árvores morreram sem delongas quando estavam deitadas, exceto a cajazeira, que mesmo deitada, caída ao chão, sempre grela e renasce.

ITAN
Naquele tempo, o macaco demonstrava ser o maior Oluwo do país, sendo, por este motivo, invejado e odiado pelos demais Oluwos que eram o galo, o carneiro e o bode. Certo dia, macaco saiu em longa viagem, tendo antes oferecido um ebó composto de nove idés dourados e um peixe assado. No dia posterior à viagem, o rei Olofin precisou consultar Ifá e para isto, convocou a sua presença os três adivinhos para que fizessem, em conjunto, uma consulta.
Os três, maldosamente, para livrarem-se da concorrência do Macaco, determinaram um ebó no que era exigido o sacrifício deste animal. Olofin, imediatamente ordenou que seus caçadores saíssem na captura do macaco que, graças ao ebó que havia oferecido, conseguiu escapar de todos as armadilhas que lhe foram armadas. Frustrados pelo fracasso da caçada, os caçadores voltaram a presença do rei, sem contudo conduzirem o animal para ao sacrifico. Como o caso era urgente e não mais podendo esperar, Olofin resolveu, na falta do macaco, oferecer o ebó com os animais que tinha a mão, ou seja, um galo, um carneiro e um bode, o que trouxe para ele excelente resultado.

ITAN
Ajinaku (o elefante), era antigamente um animal muito pequeno. Seu desejo era ver suas forças aumentadas e com esta intenção, foi procurar um adivinho chamado Sheke Sheke La Allo Ekuru (Sheke-Sheke: ruído que produzem, aos serem sacudidas, os pequenos caramujos “Ekuru”).
Durante a consulta, apresentou-se Ika Meji, que exigiu o seguinte sacrifício: Um cesto cheio de igbis, quatro cabaças e quatro pilões. Estas coisas deveriam ser entregues a Oduduwa. Ajinaku seguiu a prescrição e apresentou-se diante do Orixá, portando os objetos pedidos.
Oduduwa ordenou-lhe então, que enfiasse os pés de Ajinaku nos pilões, como se fossem sapatos e que os cobrisse com um grande pano. Durante oito dias consecutivos, o Orixá fez preces pelo Elefante. No oitavo dia, Ajinaku retirou os panos e pode verificar que os quatro pilões haviam se transformado em prolongamentos de suas pernas, ficando, a partir de então, alto e forte como o vemos hoje.

ITAN
Um certo adivinho, consultou Ifá para três personagens: Dekpa (madeira para a sustentação de telhados), Jokú (espécie de lentilha utilizado pelos Mina, num tipo de Jogo), e Azigokwin (feijão pintado conhecido como ekpaboro pelos yoruba). Por ocasião de sua chegada ao mundo, estes três personagens foram juntos consultar Ifá, para saberem qual seria seu destino sobre à terra. Ifá lhes recomendou sacrifícios, que somente os dois primeiros ofereceram.
Foi por não haver cumprido com esta obrigação, que azegokwin é hoje posto no fogo, cozido e comido. Os outros têm uma importância muito maior: um permite que se construam casas e o outro que se ganhe dinheiro. Sem o terceiro, no entanto pode-se passar muito bem.

AXEXÊ
OYÁ orisá do princípio feminino ativo, senhora do ar em movimento. Patrona dos ventos, das tempestades e dos raios, seu dia é a quarta-feira, suas ferramentas o irueshin, espanta-mosca sagrado, e ainda, a espada. Suas cores são o marrom, o vermelho e o rosa. Carrega também o cargo de senhora dos mortos. Oyá homenageia o pai!!!

Era uma vez em Ketu um grande caçador, líder de todos os caçadores.
Ele adotou como filha uma menina de nova Oyá, esperta e ágil. Ela se tornou muito querida do grande caçador e ficou muito conhecida pelo povo do lugar.
Chegou o dia em que o grande caçador morreu, o que deixou sua filha muito triste.
Oyá quis muito homenagear o pai morto.
Enrolou os instrumentos de caça do pai com um pano. Preparou os pratos de que ele mais gostava. Durante sete dias, dançou e cantou em homenagem ao pai, chamando a atenção dos caçadores do local.
Na sétima noite, seguida pelo outros caçadores, Oyá entrou pela mata e depositou as coisas do pai ao pé de uma árvore sagrada.
Olorum, que tudo vê, ficou muito tocado com a filha adotiva do caçador e a ela deu o poder de guiar os mortos até o òrun, o céu. Transformou o caçador em orisá e oyá na senhora dos reinos dos mortos.
Desde então, quando alguém morre, é Oyá quem o leva para o órun, mas não sem antes ser devidamente homenageado pelos entes que ficam na terra, com festa, comida, canto e dança.
Foi criado o ritual do axexê.


OFERENDA E REMÉDIO
IFÁ foi consultado por sacrifício; filho de Orúnmila...
IFÁ foi consultado por remédio; filho de Osanyin...

Um dia Osanyin falou ao Rei Ajáláyé que era mais velho (mais sábio e poderoso) que Orúnmila. Por seu poder e conhecimento ele era muito superior à Orúnmila.
Osanyin alardeou todos os feitiços que costumava fazer e todos os remédios que preparava.
O Rei Ajáláyé avisou Orúnmila: Osanyin disse-me que é maior que você (mais sábio e poderoso) e agora o Rei quer saber; se você é maior que Osanyin ou se é Osanyin que é maior do que você Orúnmila!!
Orúnmila acedeu; verdadeiramente ele é mais velho que Osanyin.
Seja lá o que for que o Rei Ajáláyé disser para testá-los (Osanyin e Orúnmila) ele só lhes diria no momento do teste, então o Rei Ajáláye falou: desejava que cada um dos dois fosse buscar o filho mais velho, ambos os trouxeram.
Então o Rei Ajáláyé disse que deveria ser feito; deveriam enterrar o filho de Orúnmila dentro de sete dias. Se Orúnmila fosse mesmo poderoso a criança estaria viva quando a desenterrassem; deveriam estar falando como uma pessoa viva!!!

Osanyin também deveria enterrar seu filho e se acontecesse que ambos estivessem vivos nenhum seria maior do que o outro perante o Rei. Ele concordaria que ambos eram grandes homens.
Porém se um deles falhasse significaria que não era o que proclamava ser.
Osanyin pediu que lhe trouxessem o seu filho mais velho que era chamado: REMÉDIO.
Orúnmila trouxe o seu chamado: OFERENDA.
Um buraco na terra foi cavado e os dois filhos foram enterrados vivos.
Orúnmilá foi para casa e consultou IFÁ estaria seu filho OFERENDA vivo daqui à sete dias?
A resposta de IFÁ era de que Orúnmila deveria oferecer EKÚRÚ, bolos de feijão, pimenta da costa, um galo, um bode, um pombo, um coelho e dezesseis búzios. Orúnmila fez as oferendas determinadas, preparou-as para serem colocadas em quatro locais; uma na estrada, uma na encruzilhada, uma para ESÚ, uma na praça do mercado.
Orúnmila obedeceu as indicações sacrificando o coelho, ESÚ colocou no coelho o seu poder e ressuscitou, o coelho cavou um buraco na encruzilhada que dava até onde o filho de Orúnmila estava enterrado e, assim o coelho levou alimento para ele OFERENDA, assim o filho de Orúnmila estava comendo.
O filho de Osanyin: REMÉDIO possuía muitos feitiços ao ficar com fome e nada tinha para comer. Colocou sua força na terra que se abriu para ele chegar até o filho de Orúnmila e perguntou à OFERENDA o que ele tinha comido nestes três dias? Ele estava quase morto de fome.
O filho de Orúnmila disse que seu pai tinha enviado comida para ele.
REMÉDIO pediu que OFERENDA por favor, lhe desse algo, ah!! Como poderia ele OFERENDA dar algo para REMÉDIO comer? Existia uma disputa que os envolvia, se começasse a alimentá-lo em cinco dias ele não estaria morto e assim OFERENDA não poderia dar a vitória ao seu pai Orúnmila, então REMÉDIO rogou: Por favor, dê-me comida que quando chegar o dia de nos desenterrarem e vierem nos chamar, eu REMÉDIO não responderei.
OFERENDA então alimentou REMÉDIO até que chegou a data chamaram então o filho de Osanyin; REMÉDIO que não respondeu, deram como certo de que REMÉDIO estava morto.
Chamaram OFERENDA, filho de Urúnmila e OFERENDA respondeu: SIM!! ESTOU VIVO!!
OFERENDA apareceu são e bem disposto. REMÉDIO apareceu também são e bem disposto!!
Osanyin perguntou: se você não estava morto, por que não me respondeu? REMÉDIO disse que não poderia ter respondido pois OFERENDA não lhe deixaria responder, disse que ambos tinham feito um pacto; que se OFERENDA alimentasse REMÉDIO ele não atenderia ao chamado de seu pai Osanyin, desta forma Orúnmila ganharia a senioridade (supremacia).
REMÉDIO disse então a seu pai Osanyin que se ele não tivesse comido por (recebido comida através de OFERENDA) sete dias teria morrido.

Então tornou-se um provérbio: OFERENDA não deixou REMÉDIO responder. OFERENDA é mais poderoso do que REMÉDIO.
Significa que as OFERENDAS, também chamadas de sacrifício são melhores de confiar de que em REMÉDIOS.
Assim Orúnmila obteve maior prestígio do que Osanyin, dizem que IFÁ deve ser saudado como:
IFÁ aquele que é mais eficaz do que REMÉDIO.

No mês de agosto, nas tradicionais casas de Candomblé do Brasil, são realizadas cerimônias em homenagem a Obaluaye: o Olubajé.

OBALUAYE é associado à criação e considerado como o grande regente do planeta. A terra, no sentido mais amplo da palavra, é sua matéria de origem, sobre a qual detém o poder e domínio absolutos.
A terra é uma unidade cósmica, viva e ativa. Ela é o fundamento de todas as manifestações. Tudo o que compõe a terra, ou seja, sua extensão, a variedade de seu relevo e da vegetação que nela cresce, enfim, tudo o que está sobre a terra está em conjunto e constitui uma grande unidade.
A terra encontra-se no começo e no fim de toda a vida. Toda a forma nasce dela, vive, e retorna para ela no momento em que a parte de vida que lhe tinha sido concedida se esgotou. OBALUAYE está relacionado à terra e à tudo o que dela advém, ao retorno, ao pó, à transformação, à regeneração, ao renascimento, pois é sabido que "tudo o que sai da terra é dotado de vida e tudo o que volta para a terra é de novo provido de vida".

LENDA DE OBALUAYE

Nana, esposa de Orixalá, gerou e deu à luz a um filho. Sua criação não foi perfeita, nascendo uma criança doente, com muitas chagas recobrindo seu pequeno corpo. Ela não conseguia imaginar que maldição era aquela, que trouxe de suas entranhas uma criatura tão infeliz!
Sentindo-se impossibilitada de cuidar daquela criança, pois mal conseguia olhar para ela, resolveu deixá-la perto do mar. Se a morte a levasse seria melhor para todos.
Yemonjá, que estava saindo do mar, viu aquele pequeno ser deitado nas areias da praia. Ficou olhando por algum tempo, para ver se havia alguém tomando conta dele, mas ninguém aparecia. Então, a grande divindade das água foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou mais perto, pôde compreender que aquela criança tinha sido abandonada por estar gravemente enferma. Sentindo uma imensa compaixão por aquela pobre criatura, não pensou em mais nada, a não ser em adotá-lo como a um filho.
Com seu grande instinto maternal, Yemonjá dispensou a ele todo o carinho e os cuidados necessários para livrá-lo da doença. Ela envolveu todo o corpo do menino com palhas, para que sua pele pudesse respirar e, assim, fechar as chagas.
Obaluayê cresceu e continuou usando aquele tipo de roupa, e ninguém, a não ser sua querida mãe, tinha visto seu rosto. Era um ser austero e misterioso, provocando olhares curiosos e assustados de todos. Ninguém conseguia imaginar o que se escondia sob aquelas palhas.
Oyá, certa vez, o encarou, pedindo que descobrisse seu rosto, pois queria desvendar, de uma vez por todas, aquele mistério. Obaluayê, sem lhe dar a menor atenção, negou-se a fazê-lo. Ela, que nunca se deu por vencida, resolveu enfrentá-lo. Usando toda sua força, evocou o vento, fazendo voar as palhas que o protegiam.
Quando a poeira assentou, Oyá pode ver um ser de uma beleza tão radiante, que só poderia ser comparado ao sol. Nem mesmo ela, como orixá, conseguia erguer os olhos para ele. Assim, todos entenderam que aquele mistério deveria continuar escondido.
Uma outra lenda nos mostra que esse poderoso orixá, em suas andanças pelo mundo, pode presenciar o desenrolar de muitas guerras. Os povos que Olorun criou e deu vida brigavam por um pedaço de terra. Muitas pessoas morriam, para que seus líderes pudessem conquistar extensões maiores para seu reinado. Os limites, para esses guerreiros, eram insuperáveis, e as guerras não tinham mais fim. Obaluayê não entendia o motivo destas guerras, já que Olorun havia criado a terra para todos.
As lutas traziam muita dor e destruição, e ninguém mais sabia dar o devido valor à vida humana. Os homens só pensavam em seus interesses materiais.
Obaluayê, indignado com essa situação, resolveu mostrar a eles que a vida é o maior tesouro que alguém pode ter.
O poderoso orixá traçou, então, com seu cajado, um grande círculo no chão, no centro dos conflitos. Colocou dentro dele todo tipo de doença existente. Todo guerreiro, que por ali passasse, iria contrair algum tipo de doença.
De fato, foi o que aconteceu. Muitas pessoas adoeceram, inclusive os líderes dos exércitos. Só isso conseguiu por fim às guerras.
As doenças se transformaram em epidemias, deixando populações inteiras à beira da morte.
Um babalawô revelou o mau presságio, pedindo a todos que refletissem sobre o que estava acontecendo, por culpa deles próprios. Obaluayê havia mandado essas mazelas para a terra, a fim de mostrar que, enquanto temos saúde e uma vida plena, não devemos nos preocupar excessivamente com coisas materiais. Desta vida nada se leva, a não ser o conhecimento e a experiência que acumulamos.
Assim, os que aceitaram esses desígnios e fizeram oferendas, conforme explicou o babalawô, conseguiram livrar-se de suas enfermidades e restabelecer sua dignidade. Mas, infelizmente, nem todos agiram assim.
Fonte: Huayrãn Ribeiro