quinta-feira, 5 de maio de 2011
Tata Anselmo faz reflexão sobre importância do sacerdócio afrorreligioso
4 de maio de 2011
. Foto: Marco Aurélio Martins Ag. A TARDE
Taata Anselmo Santos Minatojy
É de se lamentar as notícias que estão circulando banalmente em nossa sociedade, através da mídia, com referência ao Sacerdócio nas religiões de matrizes africanas. Fico muito triste ao perceber que existe, por parte de alguns segmentos dos meios de comunicação, certa tendência em desqualificar o sacerdócio nestas religiões obedecendo ao forte estigma que nos acompanha há muitos séculos.
Por outro lado, a mudança radical de valores por que passa nossa sociedade, tem se alastrado com uma velocidade devastadora, fazendo com que uma religião de tradição oral como a nossa esteja sempre em alerta para defender seu patrimônio cultural e religioso, trazido até nossos dias através de muito sacrifício, sofrimento e morte de muitos dos nossos ancestrais.
Este novo entendimento dos valores que ocorrem na contemporaneidade acaba por agredir frontalmente os ensinamentos que conseguimos obter religiosamente, durante anos, nos Terreiros de Candomblé como forma de aprendizado para a manutenção de nossa tradição para o futuro. Existe um limiar muito tênue entre o aprendizado ancestral e a exigência imediatista da sociedade contemporânea, como se nesta pressa fosse possível avaliar e colocar em prática os ensinamentos que vêm sendo socializados durante séculos pelos adeptos do candomblé de forma pedagógica segura e de acordo com o grau de comprometimento que cada qual tem na religião.
Um sacerdote do Candomblé não se faz da noite para o dia e, segundo nossas tradições, é necessário anos de aprendizado e dedicação à religião para que o Nkisi/Orixá/Vodun determine que este ou aquele deva ser encarregado de manter e dar continuidade às tradições religiosas daquele grupo. Não é uma indicação feita por outro sacerdote que conduzirá alguém ao sacerdócio, pois cabe apenas às Divindades a condução para o mesmo.
A hierarquia religiosa do Candomblé é muito bem estruturada e definida, especialmente no que diz respeito às funções que deverão ser desenvolvidas por cada adepto, bem como sua importância, dentro do sistema hierárquico religioso praticado.
É assustadora a vulgarização e o desrespeito praticados contra a nossa tradição que temos assistido hoje em dia. A falta de aprendizado ancestral no seu próprio Terreiro e a falta de humildade das pessoas têm levado muita gente ao equívoco de se achar preparado para uma determinada missão no Candomblé, auto intitulando-se Sacerdote, quando as próprias Divindades ainda não o qualificaram para tal.
Creio que o remédio para estes males encontre-se nos próprios Terreiros de Candomblé cujos sacerdotes tenham como missão/comprometimento manter a tradição ancestral do mesmo não permitindo ou validando indevidamente qualificações equivocadas que para se firmarem necessitem de apoios ineficientes como os da Internet, literaturas de candomblé, aconselhamentos de pessoas que se dizem sensitivas ou qualquer outra prática que contrarie aquelas que aprendemos em nosso Terreiro, com nosso Sacerdote.
Precisamos lembrar a máxima que diz:
“As Divindades não escolhem os capacitados. Elas capacitam os escolhidos”.
Taata Anselmo Santos Minatojy é tata de inquice do Terreiro Mokambo
comentário
Esse tema é um dos mais polêmicos dentro da nossa religião, a consagração de sacerdotes afros, é algo que pou as pessoas podem ver, não existe um registro, não existe uma solenidade própria, muito embora, muitos achem que a entreaga do chamado "deká" ou "Cuia", possa significar uma carta de alforria para que o vondunsi possa a partir daí exercer a função de sacerdote afro.
Pois, ostentar as vestes talares como tal (sacerdote), qualquer um pode fazê-lo, mas e o subastrato probatório, o conhecimento, o recheio cultural, o respaldo espiritual e mediúnico, onde estão?
Mas infelismente, existem milhares de secerdotes pelo Brasil afora, cada um com sua estoria, com seus fundamentos próprios. Acreditar ou desacreditar, compete a cada um tentar digerir esse tema. E as soluções para corrigir as distorções, passa por todos os adeptos do culto afro, mas nos deparamos com o grande pesadêlo que nos aflige, que é o fator desunião, dispersão, vaidade e etc, etc e tal.
João Batista de Ayrá/advogado/jornalista/babalorixá