quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

21/12/2011 - 14h40

Igreja se diz "acabrunhada" pela condenação de padres que abusaram de coroinhas em Alagoas

Aliny Gama
Do UOL Notícias, em Maceió

Um dia após a condenação à prisão dos padres Luiz Marques Barbosa, Raimundo Gomes do Nascimento e Edilson Duarte pela prática de pedofilia, a Diocese de Penedo emitiu nota afirmando que se sente “profundamente acabrunhada” com os “crimes odiosos” praticados pelos religiosos e punidos pela Justiça.
Na última segunda-feira (19), o juiz da 1ª Vara da Criança e do Adolescente de Arapiraca, João Luiz de Azevedo Lessa, condenou os três sacerdotes pelos abusos sexuais contra ex-coroinhas a penas de até 21 anos de prisão.
Em nota, a Igreja ressaltou ainda que a dor é ainda maior “se pensarmos que estes fatos criminosos são graves pecados contra o sexto mandamento da Lei divina”, afirmou, destacando que a Igreja não esconde o “desconcerto e a vergonha” pela condenação.
Apesar de ainda abrigar os religiosos, a diocese destaca que se manifesta em “apoio irrestrito às vítimas dos abusos e participação nos seus sofrimentos”, destacou o bispo de Penedo, dom Valério Breda, que assina a nota.

Processo canônico

A Diocese disse que acatou as decisões da Justiça e informou aos fiéis que logo que vieram a público as denúncias de pedofilia contra os três ex-coroinhas instaurou processos administrativos penais canônicos, entregues à Santa Sé para serem julgados na instância judiciária eclesial.
Segundo a diocese, o Vaticano já concluiu os processos, mas ainda não divulgou os conteúdos das decisões. “Tão logo estes decretos cheguem à Sé diocesana de Penedo, os interessados serão notificados. Concluído o processo das notificações também as vítimas serão informadas sobre o conteúdo dos decretos canônicos.”
A Igreja pede ainda que os padres e os fiéis não esqueçam o bem realizado pela maioria dos religiosos “irrepreensíveis e abnegados, e a não ceder a sentimentos de decepção e de indiferença” e destacou que a Igreja vai encorajar e apoiar os esforços das paróquias e comunidades ligadas à Diocese de Penedo para “o arrependimento dos pecados, renovação dos costumes, reconciliação e cura espiritual”.
A diocese informou ainda que a segurança e a proteção dos fiéis menores de idade que frequentam as paróquias são prioridade e que o bispo diocesano “se dispõe a sempre acolher e investigar qualquer acusação de condutas ilícitas contra menores, praticadas por membros do clero, religiosos/as, leigos/as engajados nas pastorais desta diocese, a fim de tomar as providências cabíveis no foro eclesiástico e civil”.

O julgamento

Na última segunda-feira (19), o juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude de Arapiraca, João Luiz de Azevedo Lessa, condenou o padre Luiz Marques Barbosa, 84, a 21 anos de prisão, enquanto os padres Edílson Duarte, 43, e Raimundo Gomes, 50, ficarão por 16 anos e quatro meses na prisão. Além disso, eles foram multados em R$ 1.816 cada um.
Segundo o assistente do juiz, Carlos Bezerra, o padre Luiz Marques foi condenado por três atos criminosos --sete anos contra cada um dos coroinhas. Apesar da sentença, os réus não serão presos até que todas as fases de recursos sejam encerradas.
A defesa dos padres Raimundo Gomes e Luiz Marques anunciou que vai recorrer da decisão da Justiça. “Estou surpreso com essa sentença, já que as penas ficaram totalmente fora do padrão. Isso deixa margem grande para a defesa. O juiz mudou a tipificação da própria denúncia proposta pelo MP. Vamos recorrer com certeza absoluta dessa decisão”, afirmou o advogado Edison Maia.