quinta-feira, 24 de junho de 2010

Hospital extingue capela e cria espaço laico; arcebispo protesta


Hospital extingue capela e cria espaço laico; arcebispo protesta

Fiéis afirmam que foram despejadas

A direção do HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) decidiu fechar a sua capela, cujo local será ocupado por um ambiente de espiritualidade, mas laico, sem nenhum símbolo religioso.

Elisa Ferraretto, da assessoria de comunicação do hospital, informou que a Associação Literária Boaventura, responsável pelas cerimônias e cinco missas semanais da capela, foi avisada de que terá de sair dali até o final do mês.

A partir de agora, a família de paciente que desejar assistência religiosa, como a extrema-unção, terá de chamar um sacerdote de fora, porque não mais haverá um capelão disponível. Consternado, o frei Marion Kirschner, o capelão, não quis falar com a imprensa.

Elisa disse que o HCPA resolveu cumprir o artigo 19 da Constituição, que proíbe que os órgãos públicos privilegiem uma religião em detrimento de outras.

Explicou que a direção do hospital decidiu pelo espaço laico, com ilustrações e músicas neutras, em vez de ter um ambiente ecumênico – o que poderia ser complicado por causa das inúmeras religiões.

Fundado em 1970, o HCPA é mantido com recursos do Ministério da Educação e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O arcebispo Dadeus Grings, de Porto Alegre, avisou: “Vai ter briga”. Disse que a Cúria Metropolitana pretende recorrer à Justiça contra a extinção da capela.

“Não nos avisaram, simplesmente despejaram. Tiraram a nossa liberdade lá dentro para colocar a nova era.”

Ele argumentou que a decisão do hospital ignora o acordo assinado recentemente entre o Vaticano e o presidente Lula, o qual, no seu entender, assegura a presença da Igreja Católica em espaços públicos.

Alguns fiéis – entre eles funcionários do hospital – criticaram a decisão. “Achamos justo que outras religiões sejam representadas, mas questionamos a forma como fomos tratados. Eles [a direção do hospital] nos desrespeitaram”, disse Vera Lúcia Rodrigues, 50.

Elisa disse que a tendência mundial é privilegiar a diversidade religiosa. “Temos 5 mil funcionários de diferentes credos e era natural que ocorresse isso [a extinção da capela].”

A decisão do HCPA contribui para um embate que vem se travando nos últimos anos. De um lado estão os defensores da exclusão dos símbolos religiosos do espaço público, porque o Estado é laico, e, do outro, a Igreja Católica, que, embora o número de seus fiéis esteja se reduzindo, diz ser o catolicismo parte da cultura brasileira, o que justifica, segundo ela, a presença de seus símbolos nas repartições.

Com informações do Zero Hora.weblogpaulolopes