quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Embriaguez e suicídio de indígenas na atualidade
Número de suicídios entre índios do Alto Solimões, na Amazônia, é quase oito vezes maior que a média nacional
Paulo Terra
3/8/2011
Envie essa matéria para um amigo O corpo de Brasil Lopes, índio da etnia Caiuá, foi encontrado na manhã do dia 19 de maio de 2011 na aldeia Bororó, no Mato Grosso do Sul. Ele se enforcou depois de passar a noite embriagado. Longe de ser um caso isolado, o excesso do consumo de bebidas alcoólicas e o suicídio entre as populações indígenas têm chamado a atenção das autoridades públicas. Já em 2000, a Fundação Nacional do Índio (Funai) indicou, a partir de um estudo, que o alcoolismo estava entre as enfermidades mais comuns nos grupos indígenas brasileiros. A Comissão Especial sobre as Causas e Consequências do Consumo Abusivo de Bebida Alcoólica, da Câmara de Deputados Federal, chegou a organizar um debate, em junho, sobre a ingestão exagerada feita pelos índios. Uma das questões abordadas foi justamente a relação entre o abuso de álcool e o aumento de suicídios.
Segundo informações do Distrito Sanitário Especial Indígena dessa região, a média de suicídios entre índios do Alto Solimões, na Amazônia, chegou a ser quase oito vezes maior que a média nacional em 2008, que varia de 3,9 a 4,5 para cada 100 mil habitantes. Embora seja preciso levar em conta os aspectos culturais, como os sentidos da morte para os diferentes grupos, o elevado número de suicídios, que chegou a 38,32 para cada 100 mil habitantes na região, pode ter no consumo excessivo de álcool uma de suas causas. Reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo, exibida em 30 de janeiro de 2011, apresentou diversos exemplos que indicaram o tamanho da questão, como o caso da índia Márcia Soares Isnardi, de 21 anos, da aldeia Bororó, que morreu depois de ter consumido bebida alcoólica.
Além dos suicídios, o alcoolismo também está diretamente ligado ao agravamento dos casos de violência nessas comunidades. Em outubro de2010, após seminário promovido pelo Ministério Público de Tocantins, foram criadas algumas normas para tentar coibir o consumo de álcool e drogas nas aldeias da nação Karajá daquele estado e do Mato Grosso. Foi instituída, por exemplo, a criação de uma polícia indígena destinada a proteger os integrantes das aldeias de pessoas violentas devido à embriaguez, bem como incentivos à prática de esportes. Tentativas de interromper o crescimento dessa estatística assustadora.