quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Violência contra quilombola em MG
24.08.11
Na madrugada de 20 de agosto de 2011, no Território Brejo dos Crioulos, norte de Minas Gerais, o "segurança" do fazendeiro Raul Ardido Lerário, dono de um dos maiores latifúndios dentro do território quilombola, Roberto Carlos Pereira desferiu duas facadas no quilombola Edmilson de Lima Dutra (conhecido por Coquinho) que foi transferido em grave estado de saúde ao hospital da cidade de Brasília de Minas. O agressor está foragido e, segundo informações, trabalha há mais de 12 anos para o citado fazendeiro. Ele já havia feito ameaças de morte a outros moradores, entre os quais Zé do Mário.
Essa agressão e tentativa de assassinato não é um fato isolado. Empregados do mesmo fazendeiro assassinaram, em 2009, Lídio Ferreira Rocha, irmão de Francisco Cordeiro Barbosa - Ticão, vice-presidente da Federação Quilombola e liderança local. O território quilombola Brejo dos Crioulos se localiza nos municípios de Varzelândia, São João da Ponte e Verdelândia, norte do Estado de Minas Gerais. A Comunidade Negra formada por famílias de ex-escravos ali vive desde o século XIX. Entre 1925 e 1930 por um processo de grilagem de terras, grande parte do Brejo dos Crioulos ficou nas mãos de latifundiários, processo que se consolidou nas décadas de 1950 e 1960.
Segundo laudo antropológico, 17.302 acres, formam o território quilombola e destes 13.290 acres, estão nas mãos de nove fazendeiros. Há aproximadamente 12 anos, os quilombolas vêm lutando pela conquista/retomada de seu território, recorrendo às autoridades competentes, registrando Boletins de Ocorrência nos casos de agressões e ocupando latifúndios para forçar uma solução para o seu problema. Mas, em quase todos os casos, a posição do Estado tem sido em benefício dos latifundiários, emitindo mandados de reintegração de posse que são cumpridos com rapidez e violência pela Polícia Militar do estado.
Por sua vez, os fazendeiros têm contratado pistoleiros armados que ameaçam constantemente os quilombolas. São muitos os casos de ameaças e até quilombolas foram baleados. O processo de reconhecimento do Território Quilombola Brejo dos Crioulos desde abril, se encontra na Casa Civil para a assinatura do decreto de desapropriação – esperando a assinatura da Presidenta Dilma. Enquanto as autoridades competentes tardam em resolver os problemas, o latifúndio continua a mostrar sua capacidade e força, atentando contra vida de quem luta em defesa de seus direitos.
A Coordenação Nacional da CPT espera que o decreto de desapropriação do território quilombola Brejo dos Crioulos seja assinado imediatamente pela presidenta Dilma Rousseff e seja encaminhado para os demais processos de titularização, com isto evitando que novos atos de violência se repitam. A Constituição Federal determinou no Artigo 68 do ato das Disposições Constitucionais: “aos remanescentes das Comunidades dos Quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
Goiânia, 22 de agosto de 2011.
A Coordenação Nacional
Alexandre Gonçalves (CPT Norte de Minas Gerais)
Comissão Pastoral da Terra – Secretaria Nacional