segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Segundo a polícia, Solange Alves da Silva pode ter sido morta em ritual de magia negra
"Minha mãe foi vítima de charlatão", diz filha de empresária de Canoas
NotíciaCládia Boff/ Da Redação
Foto: Cládia Boff/ Da Redação
"Minha mã foi vítima de um charlatão", diz filha de empresária de CanoasSaiba mais
Empresária teria sido enterrada viva em ritual de magia negra
Polícia faz reconstituição de morte de empresária de Canoas em Guaíba
Eldorado do Sul - O mistério sobre o desaparecimento da empresária Solange Alves da Silva, 53 anos, vista pela última vez saindo de uma casa no bairro Niterói, em Canoas, em 28 de janeiro, começou a ser desvendado ontem, em Eldorado do Sul. Com a confirmação da identidade da vítima, achada morta em junho dentro de uma cova coberta de concreto, em área de reflorestamento de uma empresa de celulose, às margens da RS-290, a Polícia fez ontem a reconstituição do crime. Dois suspeitos já foram presos, depois que R$ 27 mil foram retirados com cartões e cheques da vítima. O titular da DP de Eldorado, Rodrigo Zucco, acredita que o pai-de-santo foragido Sinval Nunes da Silva Júnior, seja o mentor do golpe. Conforme o delegado, o corpo foi concretado com dois caixões pretos com cerca de dez centímetros cada e correntes contendo um cadeado. "Pelo que me informaram, esses símbolos são usados para que o espírito dela não possa fugir ou ressurgir", explica. "Ela foi atraída ao local, onde participaria de um ritual para enriquecer", completa Zucco, indicando que a vítima vestia uma capa preta tipo bruxa. A morte da empresária, que tinha pensionatos na Zona Norte de Porto Alegre, foi confirmada na semana passada com o resultado do teste de DNA.
Mulher enterrada viva
Conforme o delegado Rodrigo Zucco, o caso só foi descoberto depois que os pais de um usuário de crack, 22 anos, contaram os últimos relatos do filho. "Antes de morrer o rapaz teria relatado que amigos tinham enterrado uma mulher viva em uma cova de uma empresa de papel", resgata. Escavando o local, a polícia encontrou pedaços do corpo de uma mulher não identificada."Fizemos uma varredura nas ocorrências de desaparecidos", diz. E completa: "Somente a perícia poderá dizer qual foi a causa da morte."
Dois suspeitos do crime estão presos e outro é procurado
Os suspeitos do assassinato de Solange Alves da Silva, José Natalício Ehlers Neto, 25, e Elton Correa Fernandes, 23, presos em 16 de junho após movimentar a conta da vítima, participaram ontem da reconstituição do crime. Segundo o delegado Rodrigo Zucco, um acusa o outro de executar o golpe. "O Elton teria feito os saques usando uma assinatura falsa, enquanto José cavou o buraco para colocar a vítima", descreve. "Não foi possível fazer a acareação, já que a advogada deles não compareceu."
A Polícia segue em busca do suposto pai-de-santo Sinval Nunes da Silva Júnior, que também está com prisão preventiva decretada. "A família dele acredita que esteja na Bahia." Se condenado, o trio pode pegar até 30 anos de prisão por latrocínio." Moradia está alugada
A casa que Solange Silva alugava na rua Concórdia, bairro Niterói, em Canoas, possui desde junho novos inquilinos. Os moradores relatam que seguem recebendo correspondências dela, mas não chegaram a conhecê-la. Dois filhos da empresária, que residem em Estrela, costumavam manter contatos frequentes com ela. "Falávamos por telefone várias vezes por semana. Na passagem das viagens, meu irmão que é caminhoneiro passava lá para vê-la", relata a técnica em enfermagem Caren da Silva Ferraz. Sem contato com a mãe desde 28 de janeiro, ela registrou o desaparecimento em Estrela e Canoas. "Me disseram na época que ela saiu de casa, em um carro na companhia do Sinval e outros dois homens."
Filha acredita que mãe foi vítima de charlatão
Convicta de que a mãe Solange Alves da Silva foi vítima de um charlatão, Caren da Silva Ferraz, 31, contou à reportagem como o conhecido da família Sinval Nunes da Silva Júnior vinha enganando a empresária para usurpar de seus bens até assassiná-la. A técnica em Enfermagem, moradora de Estrela, afirma também que os criminosos roubaram R$ 40 mil em compras com cartões de crédito da vítima.
Diário de Canoas - Desde quando Solange e Sinval se conheciam?
Caren da Silva Ferraz - Minha mãe o conhecia há 17 anos. Ele tinha influência na sua crença em religiões africanas, dizendo que era a reencarnação de um filho de oito anos que ela teve e perdeu. Por isso, bancava ele e a família dele.
Como era a convivência de Sinval com a família de vocês?
Caren - Ela lidava com ele, igual a nós (filhos). Sempre frequentou a nossa casa e veio a morar com ela quando passou por dificuldades financeiras. Sabia que não prestava e cheguei a tentar alertá-la assim que soube que usava nomes falsos.
O ritual era de magia negra?
Caren - Ela estava no Candomblé há uns 10, 12 anos. O ritual que ele (Sinval) a persuadiu a participar era como um batizado. A partir daquele dia estaria pronta para ser mãe-de-santo, tanto que ela saiu de casa com a roupa própria para o ritual.
E o dinheiro furtado?
Caren - Não fora só os R$ 27 mil que eles levaram dela. O Sinval sempre tirou coisas dela, onde o espírito vinha e confirmava que ele era a reencarnação do filho dela. Cerca de R$ 40 mil também foram gastos em compras com cartões de crédito da mãe. Outros R$ 100 mil só não foram roubados por que o banco não permitiu o saque.
Como será a despedida?
Caren - Ainda não sabemos, porque o caso se tornou muito doloroso. O corpo dela deverá vir para ser enterrado em Estrela.
Foto: Pedro Revillion/CP
Diário de Canoas