quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Arcebispo de SP critica polarização de debate eleitoral em torno do aborto


07/10/2010 12h08 - Atualizado em 07/10/2010 13h02
Arcebispo de SP critica polarização de debate eleitoral em torno do aborto
Dom Odilo Scherer diz que candidatos devem explicitar posição sobre tema.
Mas, para cardeal, outros temas devem ser considerados na hora do voto.
Letícia Macedo
Do G1 SP


Dom Odilo Scherer durante encerramento da Semana Nacional da Vida, em São Paulo (Foto: Letícia Macedo)O arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, que também é membro do conselho permanente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou na manhã desta quinta-feira (7) considerar que não é positiva para o debate eleitoral a polarização em torno da questão do aborto. Mas, para ele, os candidatos devem apresentar claramente suas ideias sobre o tema.

(Correção: a primeira versão desta reportagem, publicada às 12h08, informou incorretamente que dom Odilo é secretário-geral da CNBB. O cardeal, na verdade, já não ocupa mais esse cargo. Atualmente, ele é membro do conselho permanente da entidade. A informação foi corrigida às 12h50.)

A afirmação foi feita durante o encerramento da Semana Nacional da Vida, organizada no Amparo Maternal, entidade filantrópica que acolhe gestantes carentes, na região da Vila Mariana, em São Paulo.

Quando perguntado se a posição do candidato sobre o aborto seria fundamental na hora de escolher o próximo presidente da República, Dom Odilo declarou que outros assuntos também devem ser levados em consideração.

“[O aborto] é uma das questões que os eleitores têm que saber o posicionamento dos candidatos. Porém, a polarização em torno do assunto não é boa, porque temos muitos assuntos que devem também ser levados em consideração [na hora do voto]”, disse.

[O aborto] é uma das questões que os eleitores tem que saber o posicionamento dos candidatos. Porém, a polarização em torno do assunto não é boa, porque temos muitos assuntos que devem também ser levados em consideração [na hora do voto]"Dom Odilo SchererPara o cardeal, os candidatos devem “se manifestar sobre aquilo que é sua posição [sobre o aborto], assim como tantos outros assuntos que interessam aos eleitores”.

Dom Odilo reiterou a posição da CNBB de não declarar apoio a partidos ou candidatos nesta disputa eleitoral. “A Igreja se propôs a não indicar partidos ou candidatos, mas apontar critérios e princípios com relação à escolha, que deve ser livre e autônoma.”

Questionado sobre integrantes da igreja que teriam indicado apoio a algum candidato, Dom Odilo afirmou que “se algum o fez é por sua responsabilidade própria. Não é uma posição oficial’. Ele descartou uma divisão na CNBB sobre o assunto. “A posição foi votada em assembleia geral, portanto, não há divisão”, declarou.

O arcebispo de São Paulo lembrou ainda que a Igreja Católica considera que a vida humana se inicia no momento da concepção. “Independente das condições que em que foi concebido, o ser humano precisa de amparo. A criança não deve pagar com a sua vida pelo que outros cometeram de forma errada”, disse.


Uso da religião para fim eleitoral
Na noite de quarta-feira (6), em Brasília, a Comissão Brasileira Justiça e Paz, órgão ligado à CNBB, criticou o uso da religião para fins eleitorais e disse que grupos desconsideram orientações da CNBB.

A comissão divulgou nota na qual comenta o momento político brasileiro. "Muitos grupos, em nome da fé cristã, têm criado dificuldades para o voto livre e consciente", afirma o texto.

Veja a íntegra da nota:

"Nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz
O MOMENTO POLÍTICO E A RELIGIÃO

“Amor e Verdade se encontrarão. Justiça e Paz se abraçarão" (Salmo 85)

A Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) está preocupada com o momento político na sua relação com a religião. Muitos grupos, em nome da fé cristã, têm criado dificuldades para o voto livre e consciente. Desconsideram a manifestação da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de 16 de setembro, “Na proximidade das eleições”, quando reiterou a posição da 48ª Assembléia Geral da entidade, realizada neste ano em Brasília. Esses grupos continuaram, inclusive, usando o nome da CNBB, induzindo erroneamente os fiéis a acreditarem que ela tivesse imposto veto a candidatos nestas eleições.

Continua sendo instrumentalizada eleitoralmente a nota da presidência do Regional Sul 1 da CNBB, fato que consideramos lamentável, porque tem levado muitos católicos a se afastarem de nossas comunidades e paróquias.

Constrangem nossa conciência cidadã, como cristãos, atos, gestos e discursos que ferem a maturidade da democracia, desrespeitam o direito de livre decisão, confundindo os cristãos e comprometendo a comunhão eclesial.

Os eleitores têm o direito de optar pela candidatura à Presidência da República que sua consciência lhe indicar, como livre escolha, tendo como referencial valores éticos e os princípios da Doutrina Social da Igreja, como promoção e defesa da dignidade da pessoa humana, com a inclusão social de todos os cidadãos e cidadãs, principalmente dos empobrecidos.
Nesse sentido, a CBJP, em parceria com outras entidades, realizou debate, transmitido por emissoras de inspiração cristã, entre as candidaturas à Presidência da Republica no intento de refletir os desafios postos ao Brasil na perspectiva de favorecer o voto consciente e livre. Igualmente, co-patrocinou um subsídio para formação da cidadania, sob o título: “Eleições 2010: chão e horizonte”.

A Comissão Brasileira Justiça e Paz, nesse tempo de inquietudes, reafirma os valores e princípios que norteiam seus passos e a herança de pessoas como Dom Helder Câmara, Dom Luciano Mendes, Margarida Alves, Madre Cristina, Tristão de Athayde, Ir. Dorothy, entre tantos outros. Estes, motivados pela fé, defenderam a liberdade, quando vigorava o arbítrio; a defesa e o anúncio da liberdade de expressão, em tempos de censura; a anistia, ampla, geral e irrestrita, quando havia exílios; a defesa da dignidade da pessoa humana, quando se trucidavam e aviltavam pessoas.

Compartilhamos a alegria da luz, em meio a sombras, com os frutos da Lei da Ficha Limpa como aprimoraramento da democracia. Esta Lei de Iniciativa Popular uniu a sociedade e sintonizou toda a igreja com os reclamos de uma política a serviço do bem comum e o zelo pela justiça e paz.

Brasília, 06 de Outubro de 2010.
Comissão Brasileira Justiça e Paz,
Organismo da CNBB"