domingo, 24 de outubro de 2010

Eleições: O Povo de Santo se porta como verdadeiro suicida


Eleições: O Povo de Santo se porta como verdadeiro suicida Lideranças Religiosas - as primeiras a atuar mediante uma prática verdadeiramente desabonadora e acintosa à memória dos nossos ancestrais - Jayro Pereira (Ogiyán Kalafor) Como nunca antes visto no Brasil, uma quantidade relativamente grande de candidatos, sobretudo, no âmbito das eleições estaduais se apresentaram com propostas voltadas para as Comunidades de Terreiros da Religião de Matriz Africana e Afro-Indígena, bem como para os adeptos de tais crenças. Nas minhas andanças por esse país, sobretudo, nesse período das eleições gerais que vão de deputado estadual, federal, senador, governador e presidente da República, procurei ficar atento para essa questão, já que chama a atenção de todos/as a enorme quantidade de evangélicos declarados e que manifestam suas propostas voltadas para os interesses da população pentecostal e neo-pentecostal que unidas elegem seus candidatos, inclusive aqueles/as que de forma explicita demonstram a sua intolerância religiosa ou a sua afrotheofobia veementemente como forma de angariar votos tantos fiéis das várias denominações como da camada populacional que acredita na dicotomia judaico cristã do bem e mal e que por isso elege os Terreiros como locus de Satanás ou do Diabo.

Sem nenhuma reação política dos Adeptos Afros, as bancadas evangélicas das mais variadas denominações e do grupo de carismático da igreja católica vão crescendo de maneira vertiginosa e nos espaços legislativo agem no sentido de através de mecanismos legais atingir os Cultos Afros e seus vivenciadores/as consequentemente. A intolerância religiosa é uma realidade que prossegue na sociedade brasileira como num crescente, sem que possa ser detida ou contida pelos meios legais que advogam pela liberdade religiosa e proíbe a sua discriminação. A verdade é que os episódios de intolerância religiosa que acometem templos e religiosos afros, pululam por todo esse imenso Brasil onde se faz notória a presença de valores de origem africana, notadamente da teologia e da filosofia como tradução nos Terreiros, da cosmovisão africana em que se reverencia as Divindades seja dos Orixás, dos Inquices, dos Voduns, dos Encantados, das Entidades, dos Guias Espirituais da Umbanda e da Jurema Sagrada no seu aspecto tradicional.

Sob a lógica do “toma lá dá cá”, o Povo de Santo se porta como verdadeiro suicida. Cada um/a agindo por conta própria e de maneira a atentar contra a sua dignidade e contra a Tradição de Matriz Africana. Destituído do espírito de corpo, as Lideranças Religiosas Afro que pela posição que ocupam deveriam funcionar como protótipos, são os primeiros a atuar mediante uma prática verdadeiramente desabonadora e acintosa à memória dos nossos Ancestrais e Antepassados. Ou seja, se vendem por qualquer coisa. Temos sabido de “Sacerdotes e Sacerdotisas Afros” que mantém relações espúrias e desabonadoras com candidatos e como se não bastasse com candidatos evangélicos que sabidamente cerram fileiras contra a Religião Afro. A lógica da corrupção, da negociata e de ilicitudes, o que demonstram esses dirigentes de Terreiros, seja de Candomblé, de Umbanda ou da Jurema é de que os/as mesmos/as não merecem nenhum respeito enquanto “lideranças” que orientam e conduzem Comunidades Religiosas.

Eles são um mal exemplo e que sem sombras de dúvidas alimentam a Intolerância Religiosa que querem ver debelada. Sem uma ação política sob a égide da Ética Afro, nada vai mudar nesse contexto [...] Enquanto isso os/as candidatos evangélicos, pentecostais, neo-pentecostais e carismáticos foram eleitos e com margens expressivas de votos. Os Religiosos Afros precisam repensar as suas práticas sociais, política, ética e moral. Da forma como vêem procedendo, os Adeptos Afros não precisam de inimigos externos.

Jayro Pereira de Jesus (Ogiyàn Kalafor), é Teólogo da Religião Afro, Bacharel em Teologia, Licenciado em Ciências Religiosas e presidente da ATRAI (Associação Nacional de Teólogos e Teólogas da Religião de Matriz Africana e Afro-Indígena).

Fonte: Baba Dyba de Yemanjá