quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Atores negros comentam polêmica de Tia Nastácia
.publicado em 17/11/2010 às 13h00:
Atores negros comentam polêmica de Tia Nastácia
Parecer do Conselho Nacional de Educação causa discussão também no meio artístico
Adriana Macedo e Vanessa Sulina, do R7.Texto: ..
Edson Lopes Jr./R7
MIlton Gonçalves e Aparecida Petrowky são favoráveis à manutenção do livro Caçadas de Pedrinho nas escolas
.
.
Publicidade
...Uma polêmica envolve a obra do consagrado escritor de literatura infantil Monteiro Lobato. Um dos seus livros, Caçadas de Pedrinho, está sendo acusado de conter declarações racistas contra a personagem tia Anastácia.
A seguinte descrição tem sido um dos exemplos de suposto preconceito contra a etnia negra: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou [numa árvore], que nem uma macaca de carvão”.
Com isso, o CNE (Conselho Nacional de Educação) chegou a emitir um parecer em que sugeria a retirada da obra da lista dos livros fornecidos pela Secretarias de Educação para crianças do ensino fundamental.
Alguns artistas negros, que são referência na luta contra a discriminação racial, têm considerado essa atitude exagerada e não concordam com o veto à obra, como é o caso do ator Milton Gonçalves.
- Eu acho bobagem, isso é uma brincadeira com a tia Nastácia. Esse livro foi escrito há 50, 60 anos. Já tivemos maneiras e formas de preconceitos muito mais violentas, grosseiras e discriminatórias do que esta. Deixa o Monteiro Lobato, que brigou pelo petróleo, que escreveu coisas bonitas... esse foi um escorregão dele ou não.
A atriz Aparecida Petrowky, que viveu a personagem Sandrinha na novela Viver a Vida (Globo), concorda com o veterano ator.
- Na época existia preconceito. O livro foi escrito em um momento. Tem a ver com a situação daquela época. Hoje a realidade é diferente. Acho bobagem querer retirar os livros.
O sociólogo mineiro Daniel Martins, mestre em ciências sociais pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), defende que os livros sejam impressos com um adendo explicativo, para esclarecer às crianças o contexto em que a obra foi escrita, conforme indicado no parecer no CNE.
- É importante explicar para os estudantes que aquele tipo de expressão era utilizado na época em que o livro foi escrito, que o autor não tinha a intenção de chamar a raça negra de macaca. Se não for acompanhado de uma explicação, a criança pode achar que pode chamar o colega negro de macaco, já que está no livro do Monteiro Lobato.
Ele destaca a importância do amplo debate sobre o assunto.
- Não há censura nenhuma, apenas o cuidado de explicar o livro para quem ainda está em formação e não tem o conhecimento necessário para interpretar a obra sozinha.
Jacyra Sampaio (à dir.) interpretou Tia Nastácia entre 1977 e 1985, em uma das versões do Sítio do Pica-pau Amarelo para a Globo; ao lado dela está a atriz Zilka Salaberry, que vivia Dona Benta - Foto: Divulgação
Entenda o caso
A denúncia de racismo contra o livro Caçadas de Pedrinho foi recebida no CNE, encaminhada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
O CNE, por sua vez, emitiu o parecer 15/2010, que sugeria a exclusão do livro do Programa Nacional Biblioteca na Escola, que distribui livros para as escolas públicas de todo o Brasil, ou a sua utilização com uma espécie de adendo explicativo sobre a questão racial.
Confira também
Conselho vai analisar parecer sobre livro
Lygia Fagundes entra na polêmica
...Para ter validade, o parecer precisa ser homologado pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura). Em função da polêmica criada em torno do veto à obra de Lobato, o ministro Fernando Haddad devolveu a decisão ao CNE para que seja reconsiderada.
A Câmara de Educação Básica voltou a discutir o assunto na semana passada. Em nota, os conselheiros afirmaram que o colegiado “repudia qualquer forma de censura, discriminação, veto e segregação”.
O tema voltará a ser debatido durante a reunião ordinária de dezembro, marcada para os dias 8 e 9, quando os membros da câmara vão “verificar se existem pontos que possam ter sido eventualmente mal-interpretados quando de sua primeira publicação”, diz a nota.
Colaborou Miguel Arcanjo Prado, editor de Famosos e TV do R7