terça-feira, 17 de abril de 2012

17/04/2012 09h39 - Atualizado em 17/04/2012 09h49


Mãe diz que precisa 'pagar' para filho ficar preso em ala evangélica de MT

Representante de igreja afirma que não vai se pronunciar sobre caso.

Segundo mãe de detento, presos são obrigados a pagar semananlmente.



O Ministério Público de Mato Grosso (MPE) investiga a denúncia de que presos e familiares da ala evangélica do Centro de Ressocialização de Cuiabá, o presídio do Carumbé, são obrigados a pagar dízimo a detentos para não sofrer represálias. O órgão analisa o material apreendido na última sexta-feira (13), em cumprimento de mandado de busca e apreensão.

Segundo a mãe de um dos detentos que não quis se identificar, o pagamento do dízimo é feito semanalmente. “Eles são obrigados a pagar dízimo todo domingo. O quanto a gente levar tem que dividir com eles”, ressalta a mulher. O dízimo, de acordo com ela, é pago para que o filho permaneça na ala evangélica da unidade prisional, e a arrecadação seria feita por representantes de uma igreja. “Lá dentro são os pastores mesmo. Lá dentro tem os presos que são pastores, que ficam responsáveis em arrecadar [dinheiro] de quem é aqui de fora”.

A mulher, que prefere não se identificar, denuncia que quem não paga sofre consequências pesadas. “O preso fica sofrendo represália lá dentro, humilhado, forçado a fazer coisas. Provocam o preso para a briga, tudo isso lá dentro. Inclusive perigoso sair morte, porque é cada um por si. Quem tem parente lá dentro é assim, tem que ficar rezando para não acontecer nada”, ressaltou.


Atualmente o Centro de Ressocialização de Cuiabá tem 1.250 detentos, desse total, de acordo com a direção do presídio, cerca de 700 cumprem pena na ala evangélica, coordenada por três igrejas: Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus e Deus é Amor. O diretor do presídio, Dilton Matos de Freitas, diz que já havia recebido denúncias sobre a exigência de contribuição.

“Nós tínhamos feito algumas reuniões e pedido para eles que mudassem o jeito de tratar os próprios colegas de celas e que parassem de cobrar se por acaso estivessem cobrando essa quantia que eles estavam dizendo. Até agora as denúncias que temos, nada comprovado, é que trata-se da Igreja Universal”, contou o diretor do presídio.

O Ministério Público investiga a denúncia de que representantes da Igreja Universal estariam cobrando uma porcentagem do auxílio reclusão que as famílias dos detentos recebem. O pastor Alexandre Muniz da Igreja Universal de Cuiabá disse que a igreja não foi notificada oficialmente sobre a investigação do Ministério Público e por isso não ia se pronunciar.

De acordo com o promotor de justiça, Joelson de Campos Maciel, nenhuma igreja é impedida de trabalhar com os presos, mas a igreja é que tem que ajudar os presos e não os presos ajudar a igreja. “A ilegalidade está em obrigar o preso a contribuir pra igreja. Não tem como o preso ser obrigado a isso porque ele já tem a liberdade restringida”, pontuou.

Famílias

Para a mãe de um dos presos, não existe vantagem do filho estar na ala evangélica da unidade. “Eu não vejo nada de bom lá dentro, tudo bem, lê a bíblia, mas e o resto que eles fazem é tudo errado. Extorquindo as pessoas, maltratando as pessoas, isso não é de Deus. Tudo bem que é de acordo pagar o dízimo, uma vez por mês, mas não uma vez por semana”, enfatizou.

Ainda de acordo com a mulher, se ela levar roupas, produtos de limpeza ou até comida para o filho, alguns pastores pegam para pagar o dízimo. “Pegam para pagar o dízimo se não tiver o dinheiro vivo para dar na hora. Eles pegam na conta. Aí quando tiver, vai lá e paga e eles entregam”.

Busca e apreensão

O promotor responsável pela denúncia no Centro de Ressocialização de Cuiabá, Célio Wilson, informou nesta segunda-feira (16) que o advogado da Igreja Universal teve acesso ao pedido de busca e apreensão antes mesmo dele ser cumprido.

Segundo ele, há indícios de que houve vazamento de informações sobre o pedido de mandado de busca e apreensão. A representação foi feita de forma sigilosa na 2ª Vara Criminal de Cuiabá na tarde da última quarta-feira (11). Na quinta-feira (12), o processo já estava com o advogado da igreja. Por outro lado, o juiz Roberto Seror, titular da 2ª Vara Criminal, explica que não houve por parte do Ministério Público, pedido de sigilo. Por isso, o advogado teve acesso ao pedido de busca e apreensão.

Do G1 MT