segunda-feira, 2 de abril de 2012



sábado, 31 de março de 2012 7:00

Família vai processar Estado por discriminação religiosa

Rafael Ribeiro 
do Diário do Grande ABC


Os pais do menino de 15 anos vítima de bullying na Escola Estadual Antônio Caputo, no
 Riacho Grande, em São Bernardo, anunciaram ontem que vão processar o Estado por discriminação religiosa.

O garoto, adepto do candomblé, sofre retaliações dos colegas de classe por se recusar a orar. A prática é incentivada pela professora de História Roseli Tadeu Tavares Santana. Evangélica, ela utiliza os 20 minutos iniciais de aula para pregar ensinamentos da Bíblia.
Integrante da comissão de liberdade religiosa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Jáder Freire de Macedo Júnior assumiu a defesa da família. "Nossa prioridade é ajudar esse menino. Caça às bruxas não é o caso agora, é necessário apurar quem são os responsáveis. Mas temos de diferenciar educação religiosa de catequismo."
A Diretoria Regional de Ensino da cidade e a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) argumentam que a professora segue o currículo escolar para falar de temas ligados à religião. A Secretaria Estadual da Educação começou a apuração preliminar de 30 dias para apontar sua decisão.
Ontem, a Vara da Infância e da Juventude do MP também abriu investigação. Trabalharão em duas frentes. Uma, com o promotor Jairo de Lucca, acompanhará os trabalhos da secretaria para decidir se abrirá ou não inquérito contra Roseli. O foco prioritário, no entanto, é a saúde do menino. A promotora Vera Lúcia Acayaba de Toledo liderará campanha com vários órgãos públicos, entre eles Conselho Tutelar, Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania), Secretaria Municipal da Saúde e a própria Secretaria Estadual da Educação para combater o bullying religioso na escola.
A professora Roseli compareceu à reunião realizada ontem no Fórum de São Bernardo, mas ficou em sala separada. Segundo o pai do aluno, Sebastião da Silveira, 64 anos, uma pessoa ligou oferecendo vaga em outra instituição, mas a sugestão foi rejeitada. "Meu filho vai continuar na escola. Ele vai ter de aprender a lidar com a diferença e não criar uma dependência minha", disse.
O jovem tem ido às aulas e, nesta semana, segundo o pai, sofreu novos ataques pessoais. Em avaliação, o psicólogo disse que o menino teme viver em "pecado" e "ter de pedir perdão a Deus". Aproveitando o feriado da próxima semana, Silveira vai viajar com a família para esfriar os ânimos.
"Pelo menos o caso está sendo tratado. Se de forma correta, o tempo vai dizer. Por enquanto, vejo intenção grande de todos os órgãos em se fazer de tudo para apurar o que aconteceu e ajudar esse e outros jovens", disse o advogado.